
Digital e Real: O Equilíbrio que a Educação Precisa
Margarida Gomes
2025-10-09Setembro é sempre um recomeço. As mochilas voltam às costas, os horários ganham forma, e professores e famílias retomam a missão de educar e preparar as novas gerações para o futuro.
Mas que futuro estamos a preparar, quando o digital ocupa tanto espaço no quotidiano das crianças?
Muito se fala do excesso de ecrãs. Mas o verdadeiro problema não são os ecrãs em si – são as experiências que eles bloqueiam:
• o tempo para brincar livremente, essencial para o desenvolvimento motor, emocional e social;
• o tempo para o aborrecimento, esse espaço sem nada planeado, onde surgem novas ideias;
• o tempo para o convívio real, as conversas cara a cara, os silêncios partilhados e as aprendizagens que só acontecem na relação.
A ciência é clara: os ecrãs não são neutros. Quando usados em excesso e sem orientação, estão associados a problemas de sono, ansiedade, dificuldade de atenção, menor empatia e atrasos no desenvolvimento de competências básicas. Mas também é verdade que a tecnologia tem um enorme potencial educativo, desde que usada com equilíbrio e propósito.
Por isso, neste novo ano letivo, talvez devamos mudar o objetivo: em vez de apenas “limitar ecrãs”, perguntar:
“Que experiências quero garantir ao meu filho/a durante a infância?”.
Se mudarmos a pergunta de “quanto tempo de ecrã é aceitável?” para “que experiências quero garantir?”, tudo se torna mais claro. A gestão do digital deixa de ser uma luta de minutos e passa a ser uma escolha de prioridades.
Porque se em todos os momentos – no restaurante, num passeio, em casa – entregamos o telemóvel, a televisão ou o tablet…que memórias vão ficar?
• A do vídeo que viram sozinhos? Ou da tarde no parque, a correr e a descobrir os seus animais e plantas?
• A do jogo digital? Ou da conversa à mesa, cheia de gargalhadas e histórias de família?
No fundo, a questão não é apenas “quantas horas de ecrã?”.
É “que memórias e experiências quero que fiquem para sempre?”
O futuro da educação está no equilíbrio. Não se trata de escolher entre o digital ou real, mas de dar prioridade às experiências que alimentam a curiosidade, desenvolvem a empatia, fortalecem o corpo e nutrem as emoções.
O digital pode ser um grande aliado, mas nunca deve substituir aquilo que torna a infância única: as descobertas reais, as memórias partilhadas e a relação com os outros.
No fundo, o que queremos não é apenas crianças competentes no digital. Queremos seres humanos completos, preparados para viver no mundo real.