Voluntariado: Jovens estreitam laços com os seniores
Chama-se Voluntariado Amigos da Idade o projeto que pretende estreitar laços entre jovens e menos jovens. A proposta é da associação Central Jovem Vizela (CJV) que deu início a esta iniciativa no Centro Social e Paroquial de Santa Eulália (CSPSE).
A ideia partiu dos elementos da CJV, “que sempre manifestaram a intenção de fazer voluntariado com a terceira idade e também com os animais”, explica a presidente da associação, Marta Ferreira. Assim, a ideia ganhou forma e foi para o terreno, primeiramente no Casal do Telhado, estrutura ligada ao CSPSE. Através da realização de jogos, jovens e os utentes da Estrutura Residencial para Pessoas Idosas e do Centro de Dia puderam usufruir de algumas horas de convívio, em que se valorizou, sobretudo “a partilha de experiências entre as duas gerações”. “Notámos que existe mais dificuldade em “puxar” por alguns idosos, mas a partir do momento em que começaram a “entrar na onda” correu muito bem”, diz, satisfeita, a presidente da CJV. E no final desse primeiro encontro, os cerca de 12 jovens que participaram na atividade saíram de “coração cheio”. “Ganhámos histórias das quais não tínhamos noção, ganhámos sorrisos e algumas lágrimas também, alguns choraram de alegria, e são coisas que, realmente, tocam no nosso coração, conseguir ver que conseguimos tocar os outros só pelo simples facto de aparecermos e de fazermos alguma coisa”, refere Marta Ferreira.
Vítor Sousa foi um dos jovens voluntários que participou nessa primeira ação de voluntariado. “é sempre bom conviver com idosos, até porque, normalmente, os idosos sofrem de solidão, eles aderiram bem, senti que poderíamos ter feito algumas coisas um bocadinho melhor, mas vamos resolver numa próxima iniciativa, nomeadamente acho que podíamos ter mais jogos para fazer no interior do Casal do Telhado”. “Ouvi muitas histórias, gostei mesmo”, afirma. Com a mesma sensação ficou Maria Gomes: “Acho que foi divertido, pude conversar com alguns [idosos] e foi sempre bom. Gosto de ter experiências novas e é sempre bom ter contacto com uma geração que não está próxima da minha. Acho que [a maior dificuldade] foi a socialização, porque sou uma pessoa tímida, [mas] gostava de repetir. Só comentei sobre esta experiência em casa, com os meus pais, que gostaram da ideia e acham que deveria haver mais voluntariado”.
Seniores gostaram da experiência e gostariam de repetir
Se foi uma atividade positiva para os jovens, para as pessoas mais velhas também. “Gostei muito, gosto de fazer atividades, joguei umas coisas na mesa e ganhei (risos). Não os conhecia, mas é bom termos jovens junto de nós, não é só idosos, temos de conviver uns com os outros”, considera Isaura Costa, utente do Centro de Dia, tal como Severina Pereira, que também gostou desse dia: “A atividade é muito boa, a gente se entrega ao outro, que são mais jovens e nós aprendemos com eles, apesar de sermos mais velhos. Dá mais segurança, mais vida, eu adoro os jovens, gosto de conversar e de brincar com ele”.
Quem também aderiu foi Fernando Costa, também ele utente do Centro de Dia: “O que mais gostei foi de os ouvir falar deles, gostei muito dessas histórias; eles também ouviram uma senhora aqui a contar anedotas. Acho que foi um entretenimento jeitoso, só tenho a agradecer; podem vir mais vezes, estes ou outros jovens”. Uma opinião partilhada por Rosa Guimarães, que frequenta a Estrutura Residencial para Pessoas Idosas: “Foi um dia especial, porque aqui não há pessoas como eles, mais novos, e ver estes jovens aqui para a gente se distrair mais um bocadinho é sempre bom, por isso gostava de repetir”.
Central Jovem pretende estender ação de voluntariado a outras instituições seniores
E a vontade de manter o projeto é corroborada por Marta Ferreira até porque, salienta a presidente da CJV, este tipo de iniciativa permite aos “jovens crescerem como pessoas”. O objetivo é realizar estas atividades “uma vez a cada três meses” e não apenas no Casal do Telhado, mas também levá-las a outras instituições do concelho.
Sílvia Monteiro considera que este contacto entre jovens e seniores permite um “crescimento” para as duas gerações
Recetiva a esta ideia mostra-se Sílvia Monteiro, diretora técnica do Centro de Dia e responsável pelas atividades de animação socioculturais da CSPSE. “é ótimo receber outras associações e instituições, temos esta abertura, achamos que é essencial”. A pandemia, lembra Sílvia Monteiro, “acabou com essa proximidade entre pessoas externas à instituição”, mas agora tenta-se recuperar desse período e “o contacto entre os mais novos e os mais velhos é essencial”. Desde logo, “para quebrar preconceitos que existem em relação à velhice”. “Vemos todos a velhice de uma forma negativa e estas atividades também servem para isso, claro que a velhice traz incapacidades e pode trazer doenças e limitações, mas também tem muitas coisas boas e é importante que a juventude nos conheça para perceberem que a velhice pode não ser assim tão assustadora”, reforça a técnica.
Sílvia Monteiro salienta que o CSPSE está sempre recetivo a receber jovens voluntários. “Achamos que é essencial e é preciso valorizar esta geração mais velha (…) e eles gostam de estar com os jovens”. “Claro que numa fase inicial eles [seniores] ficam com receio de participar, porque não sabem o que é que os espera e têm receio de não se sair bem, às vezes o que não os leva a participar é o receio de falhar, então como não sabem e não conhecem as pessoas são um bocadinho mais resistentes a participar, mas creio que se vierem cá outras vezes, as vossas caras já lhes vão ser familiares e eles já vão ter mais à vontade para participar”, frisou Sílvia Monteiro aos jovens.
A responsável pelas atividades de animação socioculturais procura reforçar a ideia de que quando um sénior entra para uma reposta da terceira idade não “se fecha para vida”: “Nós procuramos que eles continuem a ter uma vida ativa e que interajam com outras pessoas, familiares ou não, como as pessoas da comunidade, com a Universidade Sénior - através do Centro Comunitário têm vindo cá várias vezes – e, no fundo, otimizar recursos também, porque se tivermos planificada alguma atividade e se soubermos que determinada associação tem recursos aos quais possamos recorrer para fazer uma atividade mais bem sucedida, e que responda aos interesses dos nossos utentes, recorremos a essas associações para ajudarem no desenvolvimento destas atividades”. E Sílvia Monteiro mostra-se satisfeita por “perceber que são as próprias instituições do concelho que já os procuram para passar por aqui e fazerem atividades em conjunto, atividades intergeracionais com a Escola da Devesinha, o Jardim de Infância Campo da Vinha, a Escola Secundária de Vizela, a de Infias, há uma proximidade entre os equipamentos educativos e outras organizações”. Mesmo na música – “essencial na vida dos seniores” – o CSPSE conta com “voluntariado de grupos musicais” e até o voluntariado na “prestação dos cuidados básicos e à realização das atividades de vida diária” existe e é importante acontecer. Toda esta entrega se traduz em “trazer alegria, troca de afetos e aprendizagens entre todos”. “é sempre importante ver que os mais novos querem fazer parte da vida deles e há sempre oportunidade para trazer memórias e trocar experiências”, salienta. Por outro lado, considera, “este com os mais velhos também nos permite consciencializar sobre, como é que eu quero viver a minha velhice? Como é que eu quero ser tratado quando eu for mais velho? Como é que eu posso tratar agora quem é mais velho? Aquela ideia tão negativa da velhice afasta-nos de estar com os mais velhos e é preciso combater isto”. Estas atividades, acredita a técnica, permitem “um crescimento pessoal para ambas as gerações”.






