Um pobre e sombrio panorama político

Eugénio Silva

2020-01-23


Gostaria de afirmar, seria muito agradável, sentir motivos de inspiração para compor madrigais (poesia feita de galanteios e lisonjas) dedicados à política e aos políticos vizelenses. No entanto, face ao tão pobre e sombrio panorama político do presente, será certo e garantido que muito irá piorar no futuro. Não há, pois, nenhum motivo para encómios, muito menos para sorrir. Quem o poderá exprimir, porque tudo lhe apraz às mil maravilhas, é o líder do “Movimento Vizela Sempre”. Com uma direita tolamente agrilhoada aos seus propósitos, vazia de ideias e ambições políticas reduzidas, e com uma oposição socialista cada vez mais débil, a oscilar entre a inconsequência e a inexistência, mesmo que as coisas não lhe estejam a correr de feição, ou até mesmo que venham a piorar, não tem, nunca terá, motivos para se preocupar. Perde, assim, a democracia e o concelho de Vizela.
A reconfiguração do espectro político partidário saído e a sair das eleições partidárias jogou, jogará de novo, a seu favor. Não leva a espanto que, a seu bel-prazer, acabe a colocar rodos os seus adversários a reboque da agenda e dos timings da sua recandidatura. Mostra-se, por isso, irrelevante o apurar se as suas recentes declarações públicas se alicerçaram na verdade ou na pura fantasia. Certo, certo é que o líder do “Movimento Vizela Sempre”, numa hábil estratégia política, conseguiu esquivar-se a esclarecer se irá ou não recandidatar-se como independente ou se virá a encabeçar a lista do Partido Socialista. Ao mostrar tirar bom uso de “O Príncipe”, não só criou um inimaginável tabu destinado a embalar tanto os correligionários como a coligação de direita, “Vizela é para Todos”, sua apoiante, como a baralhar os seus débeis opositores políticos, os socialistas, colocando todos, os da direita, do centro e os da esquerda, nos antípodas da pré-história política.
A eleição de um novo líder é muito mais importante para o concelho do que à primeira vista se possa imaginar. Da eleição de um novo líder deveria resultar a garantia de esperança num futuro governo municipal maioritário e independente. Porém, nada disto parece interessar ao maior partido da coligação de direita, o PSD, que há pouco reelegeu o seu líder. Mas, como poderá ambicionar o poder, se a sua estratégia assenta no renovado mutismo político, vazia de ideias, desprovida da ambição da alternância do poder? Se não passa pelos seus objetivos a clarificação do absurdo acordo político que sustenta a atual “geringonça” municipal, que lhe tolhe e hipoteca o futuro político? Se não esclarece pretender a manutenção da coligação – a união do PSD e do CDS – numa estratégia voltada para a vitória nas próximas eleições autárquicas ou se opta pela atual subalternização política destinada apenas a viabilizar orçamentos municipais alheios?
Estão em marcha as eleições internas dos socialistas de Vizela. No final deste processo eleitoral, mesmo muito antes de se apurar quem irá presidir a um partido insano, é por demais axiomático que o PS sairá mais enfraquecido e muito mais descredibilizado. Desde 2018 até ao presente, mostrou-se um partido perdido, desprovido de qualquer estratégia política, subjugado por agendas e pactos secretos negociados no recato dos bastidores. Agora, resultante do recente e ininteligível divórcio político da presidente e do vice-presidente, teremos duas fações rivais lideradas por personagens que em tudo são iguais, e, pior ainda, de quem nada se pode vir a esperar de positivo em termos de pacificação, revitalização e credibilização do partido, muito menos a devolução da esperança num futuro mais promissor. Desenha-se a esperada anunciação de um algum Messias salvador ou o ansiado retorno de um qualquer Sebastião “O Desejado”.
Da candidata repetente temos como novidade curricular a proeza de legar um partido mais dividido e decadente, em acelerado processo catatónico. Durante 2 anos, com a conivência complacente e vergonhosa do seu vice e da acrítica e subserviente C.C. conduziu o partido ao sabor dos seus interesses particulares. Não teve, por isso, pudor em abandonar o sério e rigoroso projecto político levado a sufrágio nas autárquicas de 2017, nem trair, ostracizar e substituir correligionários sérios e competentes por apóstatas e mercenários, caucionando, assim, uma legítima reentrada a todos os camaradas dissidentes, entretanto banidos do partido. A sua estratégia para a “revitalização” do partido passava tão só pela sua eleição a deputada ao parlamento. E o plano correu de feição, apenas escapou a imponderável revolta de todas as concelhias do distrito, insurgindo-se contra tal pretensão. Foi pena não ter sido eleita. Mesmo que o país perdesse ganharia sempre Vizela. Quanto ao candidato pretendente, pelo intencional silêncio e omissão, tornou-se cúmplice desse despudorado aproveitamento político para fins pessoais. Ao não deter currículo, preparação política, formação ideológica nem características de liderança para sobraçar uma candidatura à câmara, transformar-se-á num testa de ferro ou em barriga de aluguer ao serviço de outros pretendentes. Agora, com o partido mais dividido e descredibilizado, reduzidas as probabilidades no perfilar de alguém a repetir a experiência (cedo sabotada) das Autárquicas de 2017, teremos dois sérios candidatos, dependendo de quem melhor vier a negociar e a prometer: o presidente cessante ou o atual. Sobre a hipotética terceira candidatura, que bem poderia aproveitar a zanga das comadres e encetar uma pacificação do partido, entre tantos avanços e recuos, colagens e descolagens, apoios e desapoios, cedo se esvaziou de sentido e credibilidade. E, ainda bem.  
Com este pobre e sombrio panorama político, alguém se sentirá inspirado a compor madrigais?