Crianças do Centro Social de Lustosa aprendem na floresta
A Escola da Floresta de Lousada é um projeto idealizado pelo Centro Social e Paroquial de Lustosa, dirigido a crianças entre os 03 e os 10 anos de idade. As primeiras incursões na Mata de Vilar aconteceram no inicío do mês de fevereiro, para já com as crianças dos 04 e dos 05 anos de idade.
O Orçamento Participativo Jovem (OPJ) foi a rampa de lançamento de A Escola da Floresta de Lousada. Foi o projeto vencedor da edição 2022, mas só este ano, em fevereiro, foi possível levá-lo para o terreno. é encarado como “um projeto inovador e que potencia o desenvolvimento mais holístico da criança, em que ela, através do contacto com a Natureza, acaba por se encontrar e desenvolver competências que dentro da sala de aula, um espaço mais fechado, não seria possível”, refere Vera Sousa, educadora no Centro Social e Paroquial de Lustosa, entidade que apresentou ao OPJ este projeto.
Em Portugal, em 2017, foi criada a associação Escola da Floresta, que explica, na sua página oficial, que o intuito deste programa, inspirado num modelo de educação dos países escandinavos, se “baseia no brincar, na exploração e no contacto com riscos controlados” e “desenvolve a confiança e a autoestima através de experiências práticas em ambiente natural ou florestal”.
Vera Sousa salienta que A Escola da Floresta aproveita o meio ambiente, o ar livre, para potenciar uma série de competências na criança”. “é a criança que tem de sentir-se à vontade para desenvolver as suas competências”, assinala a educadora, explicando, por outro lado, que apesar desta liberdade, n’A Escola da Floresta há regras e normas que as crianças também devem seguir. “Claro que numa fase inicial, que é a fase em que ainda estamos, as crianças ainda estão a perceber até onde podem ir, ainda não conseguiram descobrir o propósito efetivo da Natureza, ou o propósito efetivo d’A Escola da Floresta, mas o nosso objetivo no final é levarmos para o exterior aquilo que podemos fazer dentro de uma sala de aula”, refere.
Uma vez por semana, as crianças dos 04 e dos 05 anos do Centro Social e Paroquial de Lustosa deslocam-se até à Mata de Vilar e é neste espaço onde se desenvolvem as atividades d’A Escola da Floresta. “Cada criança vai com a sua mochila, trocamos a nossa roupa, elas [as crianças] trocam de roupa de forma autónoma e, sozinhas, vestem o equipamento da floresta”. “Após esta dinâmica inicial, dirigimo-nos à floresta, há um primeiro jogo de reconhecimento do espaço, onde são definidas as áreas onde elas podem e onde não podem permanecer”, explica Vera Sousa.
Além da educadora e de uma auxiliar do Centro Social e Paroquial de Lustosa, na Escola da Floresta estão “pelo menos dois integradores, que têm formação específica nessa”. São os integradores que “explicam o que é que vai acontecer naquele dia, quais as atividades que vamos desenvolver, claro que nesta fase inicial, muitas vezes, os integradores estão a explicar a atividade e a criança só quer explorar a Natureza”. Vera Sousa sublinha que as crianças têm “total liberdade para não se juntar a essa atividade [proposta para esse momento] e ir explorar a floresta livremente”. “Podem escavar… no outro dia eles diziam que encontraram ossos de dinossauro, então andavam todos entusiasmados e da parte da manhã mantemos esta dinâmica de exploração/atividade, depois, cerca do meio-dia, voltamos a reunir o grupo, saímos do espaço da Escola da Floresta, vamos para um espaço mais apropriado, fazemos a nossa higiene, fazemos o nosso almoço ao ar livre, e tem sido extremamente interessante ver as crianças a conseguirem sair um bocadinho da caixa, daquilo a que estão habituadas e a conseguirem adaptar-se e almoçar numa mata, portanto fazemos o almoço na mata, não no espaço de exploração propriamente dito, mas fazemos o almoço ao ar live, após o almoço fazemos uma brincadeira, um jogo de integração um bocadinho mais relaxante e depois, por volta das 13h30, voltamos para a mata para uma outra dinâmica”, refere.
E se nos primeiros momentos a vontade das crianças passava apenas por escavar e explorar o espaço da Mata de Vilar, “agora há a dinâmica de cuidar da Natureza”. “Mas há sempre este propósito de eles se autodescobrirem, se autocontrolarem, a criança tem de se responsabilizar pelos seus atos, perceber que não pode invadir a Natureza, e no final, uma coisa extremamente importante: nós vamos deixar a Natureza tal e qual a encontramos”, salienta ainda. Aliás, com o passar do tempo tem sido possível também “fazer outras dinâmicas, conseguimos, no meio da Natureza, cobertos de folhas, ouvir uma história, conseguimos explorar, subir troncos, fizemos uma série de atividades mais físicas, tivemos cerca de uma hora a explorar e a andar pela Natureza, descobrimos trilhos, animais que ainda não tínhamos visto, há toda uma imensidão e uma potencialidade que nós descobrimos nesta Escola da Floresta”, indica a educadora.
“Há imensas competências que as crianças podem desenvolver com este contacto com a Natureza”
“Sendo nós a escola piloto, abraçamos este projeto, porque, efetivamente, a nível das emoções, do seu autocontrolo, da sua autonomia, há imensas competências que as crianças podem desenvolver com este contacto com a Natureza e tem sido fantástica, tem sido ótimo perceber a evolução delas”, garante, frisando que a adaptação tem sido constante: “Na primeira sessão foi, de facto, muita novidade, elas não sabiam movimentar-se, não sabiam o que podiam nem o que não podiam fazer, e conseguir percebê-las, conseguir ouvi-las agora dizer: não podemos ir para ali, porque já não é o nosso espaço da Escola da Floresta… no outro dia encontraram uma abelha hibernada e na primeira vez que a viram a abelha sofreu um bocadinho, nesta segunda vez que a encontraram já houve aquele cuidado, deixaram ficar a abelha. A necessidade que elas tinham no primeiro dia de escavarem, de tirarem folhas das árvores, agora há efetivamente esse cuidado, de não fazer determinadas ações, porque vão magoar a Natureza, e a própria interação com os meninos é muito mais cuidada, mais calma de uns para com os outros, quando há um pequeno conflito com um amigo, tentam solucionar esse problema e a envolvência do meio acho que ajuda muito”.
Depois, por volta das 15h00, regressam ao espaço de recolha: “Fazemos a higienização, tiramos o nosso equipamento, cada criança cuida do seu equipamento, o objetivo será também elas, mais para a frente, terem capacidade de lavarem e higienizarem o seu próprio equipamento, neste momento isso ainda não é possível, depois lanchamos e regressamos para a nossa escola”.
é desta forma que é passado o dia na Escola da Floresta. Até ao momento, “estão envolvidas as crianças dos 04 e 05 anos, mas a intenção será o mais brevemente quanto possível envolver o grupo dos 03 anos”. “Acho que o grupo dos 03 anos beneficiaria imenso de poder integrar este projeto e queremos acreditar que não seja só um projeto-piloto, que seja algo para avançar”, considera.
“é uma luta nossa transpormos a sala de aulas para o exterior”. “Acho que os meninos estão muito dentro de quatro paredes, muito vocacionados para as novas tecnologias, e queremos voltar ao contacto com a Natureza, com o exterior, nós próprias, cá na escola, temos um miniprojeto que é a Cozinha de Lama, e vemos benefícios imensos nas crianças”, frisa ainda a educadora.
Assim, “uma vez por semana, mesmo que as condições climatéricas não sejas as ideais, o dia é passado na Mata de Vilar. “Imagine que está uma chuvinha, nós vamos na mesma, a única situação em que nós não vamos é numa situação de um temporal, em que haja efetivamente perigo, porque o convívio, as vivências, mesmo com a chuva, as alterações que ocorrem na Natureza com a chuva, com o frio, também são importantes para as crianças”, explica Vera Sousa.