Comunidade imigrante coloca desafios ao Agrupamento
Em Moreira de Cónegos, a escola é um dos maiores pilares da comunidade. O Agrupamento de Escolas Virgínia Moura, que reúne perto de 950 estudantes, tornou-se o retrato vivo da diversidade que marca a vila: aqui convivem alunos de várias nacionalidades, línguas e culturas, que encontram na educação o principal motor de integração e mobilidade social.
À frente desta comunidade educativa está agora Vítor Carneiro, que assumiu recentemente a direção do Agrupamento. Consciente das dificuldades, mas também das oportunidades, o novo responsável acredita que a escola deve ser não apenas um espaço de ensino, mas sobretudo de educação, de inclusão e de construção de futuros. “Eu acho que este agrupamento, ao longo do tempo, já deixa a sua marca. É um agrupamento de qualidade, e a qualidade por aquilo que nos é transmitido não só a nível interno, como também a nível externo. O facto de, há cerca de um ano, termos sido alvo de uma avaliação externa e termos obtido classificações de excelência, bem como um feedback muito positivo da comunidade, leva-nos a perceber que a fasquia está muito alta. Só com um compromisso ainda maior e com maior dedicação é que poderemos continuar a avançar”, sublinha.
Apesar do prestígio e dos bons resultados, nem tudo é perfeito. O diretor reconhece que há limitações que condicionam o trabalho, sobretudo no que toca às condições físicas. “Gostávamos de ter salas amplas, melhores, com mais conforto, com mais material didático e pedagógico. Sabemos que não é possível ter tudo o que ambicionamos, mas neste momento o desafio é claro: a população escolar está a crescer e temos de otimizar os espaços disponíveis. Isso implica reorganizar, adaptar e rentabilizar cada sala, para que todos tenham as melhores condições possíveis”, explica.
Esse crescimento é uma realidade visível sobretudo em Moreira de Cónegos, freguesia onde o aumento da população escolar se deve, em grande parte, à integração de famílias estrangeiras. “Nós vivemos aqui neste meio e sabemos que ele é um polo muito forte de comunidade de língua não materna, de pessoas estrangeiras, de várias nacionalidades. Esse grupo tem hoje um peso significativo na nossa escola”, afirma Vítor Carneiro.
O crescimento da comunidade imigrante em Moreira de Cónegos, que ronda já os 20%, trouxe também questões delicadas. Há um ano, foi notícia a falta de vagas no primeiro ciclo em escolas de Moreira de Cónegos. O aumento de estudantes, aliado às regras de colocação, levantou dúvidas sobre prioridades de acesso. Mas Vítor Carneiro rejeita a ideia de que os alunos estrangeiros ocupam os lugares dos portugueses. “Não podemos culpar as pessoas que vêm de fora. Se calhar não estamos tão preparados quanto isso para receber. Foi aquilo que falei há pouco: as coisas aparecem e nós não nos preparamos. Mas há protocolos, há regras, há leis e tentamos fazer o melhor por isso”, refere. E recorda que “a escola já teve perto de mil e quinhentos alunos” e conseguiu dar resposta.
Hoje, com menos estudantes, a gestão é condicionada por outros fatores, desde horários mistos a prioridades definidas por lei. Quanto às regras de admissão, é claro: “Se disserem são cinco, são cinco. Se disserem são sete, são sete. Se disserem são todos, são todos. Não sou eu que tu ‘tu não entras’. Isso está legislado, está decretado”.
A adaptação da escola a esta nova realidade foi um processo desafiante, mas também transformador. “Dialogar, comunicar e criar pontes com estas famílias foi um desafio completamente novo. A escola teve de se reinventar. Tivemos professores a procurar aprender noções básicas de algumas línguas, a conhecer hábitos e tradições, e a desenvolver formas mais criativas de integrar os alunos. Ao mesmo tempo, foi essencial motivá-los a aprender português e a participar na vida escolar”, recorda o diretor.
Mas a integração não se limita à aprendizagem da língua. Implica também compreender que a escola deve acolher sem perder identidade. “Nós, portugueses, temos a capacidade de receber e de nos adaptar, mas também devemos ser exigentes no sentido de que os alunos e famílias que chegam saibam respeitar e adaptar-se a nós. Não podemos nem devemos abdicar das nossas tradições, valores e cultura, porque é isso que define a nossa comunidade”, sublinha.
O resultado tem sido, na sua perspetiva, positivo: “Isso vê-se nas atividades que organizamos, no relacionamento entre os alunos e na adesão da comunidade estrangeira em participar na vida escolar. Vêm à escola, querem conhecer o que fazemos, estão de espírito aberto e, ao mesmo tempo, trazem a sua própria cultura, enriquecendo todos.”
“Ensinar e educar não são a mesma coisa”
Se ensinar é transmitir conhecimento, educar é muito mais do que isso. É, nas palavras do diretor, uma responsabilidade que começa fora da escola. “O ensinar é nós termos um conjunto de matérias, conteúdos e conhecimentos e sabermos transmiti-los. O educar é muito mais do que isso: envolve valores, princípios, formas de estar. A educação começa em casa, na rua, na sociedade. A escola é também um agente educativo, mas não pode substituir aquilo que deveria vir de fora”, sublinha.
Contudo, o diretor reconhece que a realidade atual se tem invertido. “Hoje em dia quase que acontece ao contrário: é a escola que está a educar.” “É na escola que as coisas se transformam e é aqui que os jovens passam a maior parte do tempo, onde convivem, onde se preparam para o futuro. E ninguém se forma apenas com o que aprende fora. Daí o trabalho importante que a escola tem, neste momento, no sentido de educar e fazer com que os princípios e os valores venham da escola para fora.”
‘Escolha e Movimento, Rever Práticas, Inovar Processos e Construir Futuros”: é este o lema que Vítor Carneiro apresentou em Conselho-Geral e que orientará a sua gestão. O objetivo é consolidar boas práticas, reforçar a autoavaliação, inovar nos métodos de ensino e transformar a escola em espaços de aprendizagem mais ativos e diferenciados. “Os nossos alunos são bons e apresentam resultados muito positivos. Todas as escolas de Ensino Secundário querem os alunos da Virgínia Moura. E porquê? Porque vão bem preparados. São reconhecidos como dos melhores e levam consigo a marca do nosso agrupamento para além do nono ano”, afirma o professor. Vítor Carneiro acabou por citar Virgínia Moura: ‘O importante é lutar, mesmo quando tudo parece perdido, é preciso continuar a acreditar’. Acho que é preciso continuar a acreditar na escola, na comunidade educativa e nas pessoas que todos os dias recebem os alunos, que lhes transmitem boas práticas, bons conhecimentos e que trabalham para que sejam pessoas formadas, culturas e com um bom sentido de comunidade”. Para o novo diretor, esse é o grande desafio e também a grande missão: manter viva a ideia de que a educação continua a ser “o principal alicerce de transformação, o principal elevador social”. “Educar é contribuir para o bem-estar de todos, quer os grandes, quer os pequenos. Nós aprendemos que os pequenos aprendem com os grandes e não podemos desprezar um conhecimento, uma palavra, um afeto do miúdo, por muito pouco que ele seja. Da mesma forma, temos que, enquanto adultos, sentir essa obrigação de ajudar, dar a mão e acompanhar os nossos alunos”, conclui.