História de Vizela desprezada pela Câmara Municipal

Ana Cunha

2020-01-23


A histórica escola Joaquim Pinto, localizada em pleno coração da cidade de Vizela, na rua com o mesmo nome, foi edificada em 1888, graças ao esforço de um grupo de beneméritos de entre os quais se destacou Joaquim Pinto.
Sob a condição de a futura escola ser frequentada por crianças de ambos os sexos, Joaquim Pinto ofereceu o terreno para a sua construção, numa época em que Vizela vivia uma fase desenvolvimento urbano e comercial, potencializado pelo desenvolvimento do termalismo, pela chegada do comboio Vizela e pela abertura de novas estradas. A taxa de analfabetismo muito elevada, facto que contrastava com o progresso que então se vivia e se desejava, era urgente a criação de uma nova escola pública, desta feita situada na freguesia de S. João das Caldas.
Ao longo de 132 anos, a escola Joaquim Pinto foi resistindo às mudanças do parque escolar e, em 2005, foram realizadas obras profundas de melhoramento, sem nunca comprometer os espaços verdes e de recreio que a abraçam.
A história de Vizela e o património edificado, de que a escola Joaquim Pinto é exemplo, estão hoje ameaçadas devido à decisão do atual executivo da Câmara Municipal de Vizela de criar uma “praceta” em frente à escola Joaquim Pinto!
Na reunião de Câmara do passado dia 12 de janeiro foi aprovada a proposta de requalificação da rua Joaquim Pinto, que visa, sobretudo, construir 10 lugares de estacionamento no jardim desta escola.
O atual executivo prevê deitar abaixo o muro e o jardim fronteiriço da escola para, no seu lugar, construir uma estrada e estacionamento, justificando tal obra com a “usual concentração de veículos automóveis em frente ao seu portão de acesso” em dois momentos do dia.
Todos temos conhecimento de que efetivamente em horário de início e término das atividades letivas o trânsito fica condicionado na rua Joaquim Pinto, mas a solução nunca deverá passar por prejudicar o normal funcionamento da escola, a segurança dos alunos, nem a destruição do património histórico de Vizela. Pelo contrário, a solução para melhorar a fluidez do trânsito naquela via poderia passar por uma parceria entre a autarquia e paróquia de S. João, a qual possui um parque de estacionamento ao lado da escola, para que nesses períodos do dia possibilitasse o estacionamento de curta duração. Da mesma maneira, poderia negociar-se a aquisição do espaço devoluto que existe entre o recreio e o acesso ao estacionamento, de modo a beneficiar o recreio e a permitir uma entrada lateral/traseira na escola, pelo respetivo parque de estacionamento da igreja de S. João.
Numa época em que a sociedade repensa o ensino e os espaços em que este se opera, procurando a criação de espaços de aprendizagem que potencializem, para além da segurança e conforto, a criatividade, o convívio e o contato com a natureza, em Vizela assistimos ao oposto. Pois o atual executivo municipal quer destruir o jardim de uma escola secular e substituí-lo por um estacionamento.
Este projeto irá prejudicar os alunos da escola, porque, para além de ficarem privados de um espaço verde que os protege, onde podem brincar e desenvolver projetos, até o puro e simples ato de abrir uma janela para arejar uma sala será um possível problema. Pois, tendo em conta que o projeto prevê o estacionamento praticamente encostado ao edifício, o barulho e os gases libertados pela circulação dos carros não o vão permitir.
Se o atual executivo avançar com este projeto irá privilegiar os automóveis em detrimento da segurança e brincadeiras das crianças que a frequentam, mostrando uma total displicência e despreocupação com o bem-estar de toda a comunidade educativa, assim como com a história de Vizela e dos seus vizelenses ilustres de que Joaquim Pinto é exemplo.
O projeto de destruição do jardim da escola Joaquim Pinto para criação de estacionamento foi aprovado com os votos favoráveis do Movimento Independente VS-VHS e da Coligação PSD-CDS e com os votos contra dos vereadores do PS, Dora Gaspar e Horácio Vale.