A Escola, a Escola…

Patrícia Amaro

2023-01-26


Finalizamos o ano de 2022 e iniciamos 2023, com as grandes manifestações face às políticas de educação e à falta de consideração pelas carreiras de docentes. 
Numa altura em que, no plano político, a fragilidade democrática se manifesta e assistimos todos os dias a uma falta de credibilidade por aqueles que nos governam, como diria o ditado “cada tiro, cada melro”. Com esta instabilidade, com a existência de um sem número de sindicatos, que colocam a opinião pública em reboliço, uma certeza temos, é urgente que as carreiras profissionais de qualquer profissão, não só no ensino, sejam mais reconhecidas e bem pagas em Portugal. A classe trabalhadora começa a ficar farta de fazer malabarismos económicos para sobreviver!
Está em causa a progressão das carreiras dos professores e ainda uma desconfiança total sobre a descentralização da educação, não acreditando que esta levará ao reconhecimento de competências mas sim a mais compadrios na colocação dos professores. Enquanto isso, saíram os resultados de mais um estudo sobre “Comportamentos de Saúde em adolescentes em Idade Escolar” (HBSC/OMS (Health Behaviour in School-aged Children), este estudo colaborativo da Organização Mundial de Saúde (OMS), pretende analisar os estilos de vida dos adolescentes e os seus comportamentos nos vários contextos em que se inserem, um destes sendo a escola. Este estudo iniciou-se em 1982, e neste momento conta com 51 países entre os quais Portugal, integrante desde 1996.
Os resultados de 2022, comparativamente a 2018, demonstra que os alunos estão mais infelizes, tristes, nervosos, irritados e ainda mais insatisfeitos com a vida. Estas questões remetem-nos novamente para uma maior preocupação a nível da saúde mental. A satisfação com a vida baixou (de 7,68 para 7,50) nos jovens de 11, 13 e 15 anos, tal como a sua perceção de felicidade. Outro dado ainda preocupante é que 27.2% dos adolescentes em idade escolar dizem sentirem-se infelizes, comparativamente a 2018 (18,3%), assiste-se a uma aumento do número de jovens nesta situação.
No mesmo estudo podemos também constatar que houve um aumento de sintomas físicos 12,2% revelaram ter dores de costas quase todos os dias, e 8% têm dores de cabeça diariamente.  Quanto aos sintomas psicológicos estes também aumentaram, 21% referem sentir nervosismo quase todos os dias, 15,8% mau humor ou irritação,11,6% tristeza, quase diariamente, e 9,1% sente medo.
Segundo Tânia Gaspar, uma das coordenadoras deste estudo a nível nacional, “nunca notamos tanta diferença em vários indicadores”, referindo ainda que estes resultados são influenciados pela pandemia, pela guerra na Ucrânia e pela recessão económica.
Posto isto, temos a certeza de que é urgente focarmo-nos na saúde mental dos jovens, e que a escola, um espaço privilegiado de atuação, terá de se restruturar, quer na forma como funciona, quer nas metodologias que utiliza. Isto porque além das questões de saúde mental, os jovens não sentem segurança para falar destas questões na escola, nem sentem nenhum tipo de pertença à mesma. Aliado a isto está também o desinteresse por aprender e a total desmotivação relativa aos conteúdos programáticos. Estas alterações, não podem acontecer através de programas isolados, sem cooperação entre os diversos intervenientes, é preciso uma mudança de atitude.
Se tudo isto mudar, aumentará o reconhecimento das carreiras de docentes? Ainda não sabemos, sabemos sim que poderá ser um dos pontos importantes, mas além de todas as reivindicações, urge mais uma vez a mudança de atitude, de todos da sociedade, dos poderes políticos, dos pais, da comunidade escolar, dos técnicos e também de algum cumprimento da lei relativamente às novas políticas de educação. Vamos a isso?