
VIZELA FEZ PARTE MESMO DOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Pedro Marques
2025-01-23LOCALIDADDE “OCULIS†INCLUÃDA (V)
Como já referimos, o nosso objectivo era demonstrar que Vizela também faz parte dos ressurgidos “Caminhos de Santiago”. Que têm vindo a ser sinalizados pelos “Caminhos de Torres”. E pensamos que, pelo que temos vindo a expor tal objectivo foi alcançado. E reforçado por mais o que iremos partilhar consigo, prezado leitor, agora de seguida, pois encontrámos ainda outros elementos de interesse. E certamente, outros ainda haverá.
Em princípio, os “caminhos de Santiago” seguiam as vias romanas e terrenos enxutos, a uma determinada altitude dos vales, sempre mais propensos estes a cheias pelo extravase das linhas de água. De modo especial rios e ribeiros ou regatos ou arroios e riachos. No fundo: sinónimos de cursos de água e aluviões.
Na nossa região, não só do vale do Vizela, mas também nas confinantes como Lustosa, por exemplo; e de modo especial, - “O Caminho da Agrela” (Câmara Municipal de Lousada, encontrámos o seguinte (Câmara Municipal de Lousada N.º 236 Ano n.º 25 – 4.ª série Data maio 2024. Parte I - O Caminho da Agrela): Independentemente da sua natureza, as vias medievais são profundamente influenciadas pela compleição dos terrenos que atravessam, quer seja no seu traçado, na sua constituição ou no seu aspeto (Almeida, 1968:50.) Estas características, perfeitamente perceptíveis em zonas onde os caminhos preservam o traçado ou o piso primitivo(…)”.
Este Caminho da Agrela, ou rua da Agrela, surge-nos à direita um pouco acima da “Quinta da Torre” nos limites de S.ta Eulália e logo no fim da recta onde está um edifício de apartamentos e lojas de comércio no r/c. e sobe até à avenida e largo da igreja de Santiago de Lustosa.
Já aqui nos referimos ao território de Brácara e à região de Tongóbriga. E verificámos até que em Tongóbriga terminava esse território de Brácara. Mas há uma outra curiosidade/informação para o nosso caso de Vizela estar incluída nos “Caminhos de Santiago”, e que está nesta narrativa:
“O Caminho da Agrela”, cuja designação resulta da sua passagem pelo lugar da Agrela, onde o caminho, proveniente das terras baixas de Lustosa, alcança a Chã de Ferreira, corresponde a um troço do eixo viário, de caráter regional, que na Idade Média ligava Guimarães a Penafiel (Almeida, 1968:189-190); atravessando, de norte para sul, toda a freguesia de Lustosa numa extensão de 6,071 km. O caminho, que ligava o vale do Vizela ao vale do Sousa, através da portela do Mezio, tem uma orientação genérica norte-sul e decalca, em parte, a via romana que, de Oculis, seguia para Meinedo onde bifurcaria para Tongobriga e Valongo (Sousa, 2012:2). Como o caminho se depara com terrenos de média montanha, estes foram transpostos utilizando a encosta mais acessível e de pendor menos acentuado (…)…
E mais adiante: (…) ” Por outro lado, o culto a São Tiago desde cedo se associou a outras devoções hagiográficas. é o caso de São Gonçalo e de São Roque (em Lustosa). O primeiro, do século XIII, o segundo, do século XIV, deram origem, tal como acontece na freguesia de Lustosa, a ermidas localizadas próximas dos caminhos de peregrinação jacobeia (Cunha, 2001:139-142). Patrono dos caminhos, e em particular das pontes, São Gonçalo viu a sua ermida na freguesia de Lustosa ser erigida no alto de um esporão com ocupação da Idade do Ferro (Castro de São Gonçalo), enquanto São Roque, afamado por garantir passagem segura aos viandantes em travessias difíceis, teve a sua ermida construída na Chã de Ferreira, à entrada do planalto antes do caminho iniciar a subida a partir do vale do Vizela. O caminho, que mantinha uma cota regular, acima dos 400 m, prosseguia em direção à Cobraceira e ao lugar do Souto, mencionado em 1220 pelos inquiridores de D. Afonso II (PMH, Inq.1220:71). A partir do Souto, o caminho prosseguia para sul, passando a sudeste do monte de São Gonçalo encostando à raia da freguesia de São Pedro de Raimonda e contornando o Castro do Bufo (Sousela) (Nunes et al, 2008:203) a norte e a nordeste, para decalcar um pequeno troço da EN106 rumo à Portela do Mezio, na Boca da Ribeira, de onde prosseguia para sul, pela margem direita do rio, em direção ao Sousa, acompanhando a sucessão de vestígios romanos e medievais(…)”.
Por outro lado, não podemos esquecer que o padroeiro de Lustosa é precisamente Santiago, em cujas paredes requalificadas e fundações apareceram dados arqueológicos como a vieira e outros sinais. Gravados até em baixo-relevo em pelo menos uma pedra, de antes da requalificação do templo e devidamente inventariados e tipificados. E até uma pousada de peregrinos, no convento que terá existido próximo do sítio da igreja.
Com o abraço amigo de sempre.