Santa Eulália de Vizela Terra de mistérios e fenómenos políticos

Eugénio Silva

2019-09-12


As instituições democráticas de referência, as mais sólidas e exemplares, são aquelas que se alicerçam na constância das preocupações com a verdade e a transparência. Pode-se até considerar que a maior ou menor relação com o rigor e a clareza dos órgãos responsáveis pelo exercício do poder acaba a definir a própria democracia em que vivemos. Nestas, não há lugar a nebulosas negociatas com cheiro a favorecimentos políticos e particulares nem atentados ao erário público.
Em claro contraponto, Vizela mostra a qualquer cidadão minimamente interessado na vida política que as relações do poder com a mentira e a opacidade são prevalecentes, mormente quando a verdade e a transparência se tornam desconfortáveis para os seus executantes, transformando o salutar jogo democrático numa inimaginável farsa. Por isso, na admissão que o Entroncamento seja a terra que mais fenómenos botânicos produz, deveremos vir a reconhecer como terra vanguardista na criação de inimagináveis mistérios e fenómenos políticos Santa Eulália de Vizela. Nesta vila, ou por causa dela, praticam-se negócios opacos, muito bem camuflados, assistindo-se, depois, às solenes juras de que tudo foi feito com rigor e transparência e nos rigorosos termos da lei. Querem-nos fazer sentir que são do estrito interesse público, quando neles se detetam demasiados interesses corporativos e particulares ocultos.
Para se elucidar este sombrio panorama, a seleção de dois casos singulares são suficientes - a surreal transferência do Pavilhão Desportivo do CCD, aprovada em AM, através de um assombroso negócio concertado entre o clube local, a CMV e a Junta de Freguesia de Santa Eulália (JFSE); e a nebulosa requalificação do adro da igreja eulalense. Com muita pena, pela falta de espaço, apenas se analisará o último imbróglio. Deste modo:
- O sr vereador Jorge Pedrosa, enquanto muleta do atual Executivo Municipal, revela-se como as ondas do mar - vai e vem; vem e vai. Em 28/06/2017, na Assembleia de Freguesia eulalense, no papel de líder do PSD e deputado de oposição verberava as ilegalidades perpetradas pelo presidente da freguesia – o Sr. Manuel Pedrosa - nesse tempo eleito pelo PS, por estar a utilizar máquinas e operários da sua empresa no arranjo da rua do Souto, em clara violação do preceituado no Código Administrativo. Em junho de 2018, acerca da obscura requalificação do adro da igreja eulalense, enquanto vereador da coligação de direita “Vizela é para todos”, nada objetou quando o mesmo presidente, agora eleito pelo MVHS e seu parceiro de coligação, reincidiu nas mesmas ilegalidades aquando a clandestina demolição da “Casa do Adro”;
- Do alto de uma tribuna reservada a convidados do Cortejo Vizela dos Tempos Idos, preterindo os locais próprios e oficiais – uma prática rotineira - o sr. Presidente da JFSE anuncia-nos que no decorrer deste mês dar-se-á início à execução da “obra de requalificação da área envolvente à Igreja Paroquial”. Misteriosamente, não nos informa das razões de um atraso superior a um ano, nem se o valor fixado para a empreitada - 150 mil euros - estará agora inflacionado, uma vez que, segundo o sr. Presidente, esse valor, por demasiado baixo, não atraía empresas interessadas na empreitada. Aguardemos;  
- Acerca da compra dos 5 prédios, rústicos e urbanos, pelo valor global de 175 mil euros, em 22/08/2016, tanto a vereação executiva passada tanto a atual quiseram um negócio envolto em secretismos, longe do escrutínio público, nunca sendo, por isso, levado a discussão e aprovação de uma AM. Agora, através da Apresentação Pública, registada pela Conservatória do Registo Predial de Celorico de Basto, em 22/09/2016, mostra-se que num Cartório da nossa praça se efetuou, em 03/08/2016, uma Escritura Pública de Habilitação. Nesta prestimosa missão de reconhecimento de fregueses, vivos ou falecidos, encontra-se o reverendíssimo padre Lemos, cura da freguesia, o sr. Joaquim Meireles, cidadão eulalense, agora vereador do atual executivo com o pelouro das obras municipais, e o sr. Manuel Pedrosa, então Presidente da JFSE, eleito pelo PS, agora em representação do MVHS;
- E conhecedores do espaço e do território, todos sabem, todos sabiam, da inutilidade para o referido projeto de requalificação do adro da denominada “Bouça de Agros ou Pendal”, com 34 mil m2 de área, comprada, em 22/08/2016, pelo valor de 26 mil euros, sita nos confins da freguesia, se não mesmo em território alheio. Todos sabem, todos sabiam, mas optam por estar calados e nada explicar, quando o nebuloso negócio começa a cheirar a secretíssimos favorecimentos políticos e interesses de carácter corporativo e particular, completamente à margem dos interesses públicos. As Confrontações dessa parcela são por demais elucidativas: “Norte – Benefícios paroquiais; Sul e poente – limites da freguesia; Nascente” – património particular de uma cidadã.
Toda esta clara opacidade e as gritantes falhas de rigor indiciam uma intrigante teia de interesses obscuros, tecida por uma surpreendente diversidade de ocultas conveniências políticas, onde lhe subjaz preocupantes sinais de corrupção, nepotismo e compadrio. Espera-se e deseja-se que, num tempo em que o combate à corrupção aumentou, e quando já ninguém se expõe a pagar ou receber com “sacos azuis”, as trocas de favores não venham a ser pagas pela via do peculato, do tráfico de influências ou da participação económica em negócio, formas mais bem requintadas de se atingirem fins semelhantes.

Esperemos.