Retratos à La Minuta - XXIX

Em memória de Domingos Pedrosa

2020-03-19


Este é o retrato de um herói lusitano com mais de dois mil anos, Viriato. Dele, o historiador Diodoro, diz isto – enquanto comandava, foi mais amado do que alguma vez alguém antes dele. Era dos montes Hermínios, actual Serra da Estrela e pertencia à classe dos guerreiros que os romanos temiam, chamando-lhe o Imperador dos Lusitanos.
Dizem que dos grandes líderes ou das grandes figuras da história não têm origens humildes, e por isso, seria errado dizer que Viriato era um pastor.
Segundo outro historiador, Pastor Muñoz, Viriato seria um aristocrata proprietário de cabeças de gado, e Tito Lívio descreve-o como um pastor que se tornou caçador e depois soldado, seguindo o percurso dos jovens guerreiros.
Na tradição romana os antepassados mais ilustres eram pastores e, Viriato, é comparado àquele que teria sido o pastor mais ilustre e que se tornou o rei de Roma, Rómulo.
A história fala muitas vezes do herói lusitano, de Viriato, e diz que ele demonstrou ser um grande chefe militar, não um guerreiro.
Depois de defender vitoriosamente as suas montanhas, Viriato, lançou-se numa guerra ofensiva contra os romanos, opondo-se à rendição dos lusitanos a Caio Vetílio, general romano.
Mais tarde derrotaria os romanos e viria a matar o próprio Vetílio, entrando vitoriosamente na Hispânia, divisão romana da Península Ibérica, onde alcança nova vitória contra as forças de Caio Plâncio, tomando Segóbriga. No ano seguinte as tropas de Viriato voltam a derrotar os romanos comandados por outro general.
Já quase em desespero Roma envia duas legiões para Hispânia mas após algumas derrotas Viriato consegue derrotar os romanos, empurrando-os para Córdova. Numa nova tentativa dos romanos, comandados pelo célebre general Fábio Máximo, Viriato defronta-os numa batalha decisiva onde morrem cerca de 3000 romanos. O general romano, derrotado e humilhado, ofereceu promessas de autonomia aos lusitanos e Viriato decide não o matar. Ao chegar a Roma, a notícia de tais promessas e garantias, o Senado considerou ser humilhantes para a grandeza romana e voltou atrás, declarando guerra contra os lusitanos. Assim, Roma destaca o seu melhor general, o lendário Cepião, que renova os combates com Viriato, mas, dada a força e a superioridade militar das tropas lusitanas, Cepião é forçado a pedir nova paz.
No processo de paz, Viriato envia três comissários de sua confiança a Cepião, e este, recorre ao suborno dos companheiros de Viriato, que posteriormente assassinaram o grande chefe enquanto dormia. Terminava assim, de forma trágica e inesperada, o confronto entre Viriato e os romanos, acto vergonhoso para ambos os lados. Para Portugal, dada a traição dos seus soldados face a Viriato e também para Roma, o palco da civilização, a usar de subterfúgios desonrosos para obter a vitória.
Com Viriato fora do mapa, os romanos marcharam para o nordeste da península, sem oposição, tendo atravessando o rio Douro e dominado a Galiza. Júlio César ainda governou o território durante algum tempo, e Vizela, dadas as suas águas, foi uma das localidades preferidas dos invasores.
O historiador Estrabão escreveu: “A mais poderosa das nações da Hispânia, a que, entre todas, por mais tempo deteve as hostes romanas, foi a Lusitânia.”
Camões cantou Viriato nos Lusíadas (VIII, estância 6) e estátuas a perpetuá-lo existem várias. Em Viseu tem um monumento e em Espanha, no pedestal de uma bela e imponente estátua ao hercúleo guerreiro Viriato, pode ler-se: “Terror Romanorum.”