Não tenha vergonha de usar máscara, use, mas use bem...

Victor Hugo Salgado

2020-04-08


Estamos já com cerca de 5 semanas de pandemia em Portugal, em plena fase de mitigação, – a mais grave do contágio –  e ainda ninguém afirmou publicamente se deve ou não usar máscara, algo tão elementar e que prova as mais variadas contradições do atual sistema de saúde, o que me leva a colocar 8 questões.
- Até à presente data, as indicações sobre esta matéria, passo a passo, vão-se alterando. O que me leva a questionar, sendo esta uma matéria tão importante, como é que a Direção Geral da Saúde não tem uma posição única de início até ao fim desta pandemia?
- A Direção-Geral da Saúde afirmava que só deviam ser utilizadas as máscaras por quem está infetado com Covid-19. De acordo com alguns estudos europeus, uma percentagem muito alta de doentes infetados são assintomáticos, 80 em cada 100 infetados não apresenta qualquer sintoma, e o Centro de Controlo e Prevenção de Doenças da China afirma que, quatro em cada cinco indivíduos contaminados, descobriram que estavam infetados depois de já terem infetado outras pessoas, o que me leva a questionar quantos de nós estaremos infetados, não sabemos e não usamos máscaras?
- A Direção-Geral da Saúde tem alargado as recomendações para uso de máscara a mais doentes e a novas profissões. E mais recentemente, a Direção-Geral da Saúde pediu um parecer ao coordenador do Programa Nacional de Prevenção e Luta contra as Resistências Microbianas, parecer esse que aconselha a equacionar o uso mais amplo das máscaras. O que me leva a questionar, quem é que, segundo a Direção-Geral da Saúde, deve usar máscara?
-  A Direção-Geral da Saúde não recomenda o uso generalizado de máscara, genericamente por três factos. Primeiro, por ainda não haver evidência científica quanto à total eficácia da medida. Segundo, porque pode dar uma falsa sensação de segurança. Terceiro, a máscara não é inteiramente protetora. Assim sendo, leva-me a questionar, vamos utilizar a máscara depois de estar provado cientificamente a sua eficácia, depois de passar esta pandemia, depois de morrerem centenas de pessoas e quando esta já não fará falta? Se a máscara pode passar uma falsa sensação de segurança, não era preferível pedir para usar a máscara, mas explicando como deve ser usada, tal como a Direção Geral da Saúde tem explicado questões fundamentais como lavar as mãos? Não sendo a máscara inteiramente protetora, não é preferível proteger parte, a não proteger nada? 
- Na Ásia, o uso de máscara é generalizado, tanto para proteger pessoas saudáveis como as doentes, este uso é feito em Macau, China, Coreia e Japão, e se formos ver as curvas de infeção, ela diminui muito mais nos países que adotaram este equipamento de proteção. Podemos ver o exemplo de Macau, onde milhões de unidades foram distribuídas à população, e onde todas as pessoas as usam, tendo sido uma das medidas determinantes para conseguir conter a propagação do Covid-19. O que me leva a questionar, porque é que a Direção-Geral da Saúde não usa estes como bons exemplos de boas práticas e os aplica?
- O Conselho de Escolas Médicas, que reúne professores e especialistas de todas as faculdades do país e a Ordem dos Médicos, que representa os profissionais da saúde que estão na linha da frente nesta pandemia, já recomendaram, "uso geral de máscaras pela comunidade a fim de reduzir o risco de contaminação de Covid-19". O que me leva a questionar, estando sempre tão atenta a Direção-Geral da Saúde a estas duas instituições, porque é que não está desta vez?
É certo que a Organização Mundial da Saúde desaconselha o uso de máscara de forma generalizada, também é certo que não é de todo uma posição consensual entre as autoridades e os profissionais de saúde, não só a nível nacional, como internacional. Mas também é certo que o único país do Ocidente que tornou o seu uso obrigatório, desde o início do Covid-19, está a obter resultados - a República Checa, cuja experiência começa já a ser estudada pelo resto da Europa e há já países a rever a sua política nesta matéria. 
Face ao exposto e a título conclusivo, não quero especular sobre se o Governo dispõe ou não máscaras? Se a Direção-Geral da Saúde deveria ter-se preparado para esta pandemia com um número significativo de máscaras para distribuir pela população? 
Se a Diretora-Geral da Saúde, quando afirmou junto da comunicação social, a 15 de janeiro de 2020, que "Não há grande probabilidade de chegar um vírus destes a Portugal", em vez de fazer esta afirmação, não deveria ter providenciado, desde logo, máscaras para o país? Se o Governo tem ou não a obrigação de disponibilizar máscaras à população? 
Gostaria apenas de apelar ao uso da máscara. Não tenha vergonha de usar máscara, use, mas use bem...