Não podemos perder o controlo

Fátima Anjos

2020-11-05


Este poderá ser um momento decisivo no combate à pandemia da Covid-19 mas o que vamos sentindo ao longo que os dias vão passando é que estamos entregues a nós próprios e que só os nossos comportamentos poderão evitar uma situação ainda mais alarmante. Não vale a pena que os territórios – neste caso 121 concelhos do país, incluindo o de Vizela – estejam sinalizados a vermelho e classificados como de alto risco, se as medidas anunciadas, embora mais restritivas, não forem cumpridas. E a verdade é que o aumento do número de casos tem sido uma constante e a um ritmo ao qual já parece ser difícil dar resposta, principalmente, quando é preciso definir redes de contágio. Com a dificuldade que existe no contacto com as autoridades de saúde, entupidas com trabalho, mais do que prevenir agora parece que aquilo que estará a acontecer “é correr atrás do prejuízo”. Resultado? Mais infeções. Muito difícil seria prever o aparecimento de uma pandemia como a COVID-19 mas o mesmo não se pode dizer em relação a esta segunda vaga. Quantas vezes ouvimos dizer que ela ia chegar e que ainda seria pior que a primeira? Muitas vezes. E o porquê de não nos termos preparado para isso, reforçando os meios técnicos e humanos do Serviço Nacional de Saúde, nos hospitais, na Medicina Familiar, na Saúde Pública? Porquê? Mais do que ter Covid-19 o que assusta hoje as pessoas é pensarem que poderão estar sozinhas no combate à doença e que um simples telefonema para conseguir uma declaração de isolamento profilático se pode transformar num pesadelo. É este sentimento de insegurança que começa a predominar e o que precisamos, neste momento, além de que o sistema funcione, através do reforço urgente de meios, é que o Governo comunique de uma forma mais eficaz. Que comunique menos vezes, mas que o faça de forma clara, apresentando os problemas e a estratégia de combate à pandemia. E depois não basta apresentar restrições, é preciso acompanhá-las por um pacote de medidas que compensem os setores que ficam impedidos de trabalhar ou muito reduzidos na sua atividade. Precisamos de alguma estabilidade emocional para continuarmos focados no nosso papel de agentes de saúde pública. Caso contrário, poderemos vir a assistir, nos próximos tempos, tal como já acontece em vários países, a situações de contestação pública das medidas adotadas pelo Governo no sentido de conter a pandemia nos seus territórios. Não podemos, sobretudo, nesta altura, perder o controlo.