Intermezzo Eleitoral

Constantino Martins

2019-05-16


A aproximação das eleições europeias obriga a que eu suspenda, temporariamente, uma sequência de artigos e crónicas sobre as causas da decadência em que Portugal se encontra, e da necessidade imperativa do surgimento de um novo partido político regionalista, e autonómico, que designarei daqui para a frente por Liga Norte. Não estava nos meus planos de escrita introduzir assim o tema, mas a vida é assim, cheia de surpresas. Talvez tenha sido pela situação ridícula do CDS de Braga onde se deu uma pequena revolta a bordo, dado que a maioria dos marinheiros não parecem mais dispostos a obedecer a um capitão de navio que nunca combateu naqueles mares e que não percebe nada de navegação em mar alto. Vindo directamente de Lisboa, e sem passar pela casa de partida, queria cavalgar, mais uma vez, o silêncio cúmplice do Norte de Portugal. Desta vez teve azar. É a vida, assim, cheia de surpresas. Não teve atenção ao facto de que algo está a mudar profundamente no Minho, de que as pessoas estão mais conscientes e que começam a acreditar que é possível serem donos do seu destino, agarrarem as rédeas do poder directo que lhes é negado há séculos. Telmo Correia acabou por ser a vergonha encarnada, e o rosto do desprezo centralista pelos provincianos. Como se Lisboa não fosse ela mesma uma província e uma região também. O tempo dos barões de Lisboa acabou. E a esmagadora maioria dos comentadores ainda não percebeu isto, e os políticos não querem aceitar isso. Não queria, em toda a honestidade, escrever sobre assunto tão delicado quando poderia, à imagem das milhares de vezes que vamos ler e ouvir isto, desejar a todos uma participação cívica nas eleições, que vão votar, que votem em consciência, etc, etc. A eleição é dia 26 de Maio de 2019? Quantas pessoas, sinceramente, sabem dos programas? Que objectivos? Nada. Deserto de ideias como sempre. Umas feiras, uns papéis. Porque de facto a grande ideia da Europa é um federalismo adiado, e um regionalismo que aprofunde a ideia da qualidade da democracia sem medos de desagregacionismo. Porque a qualidade da vida dos cidadãos está acima do nome da cidade onde vivem. Não queria ter que falar nestas coisas desagradáveis. Mas é a vida. Talvez fosse pela notícia desta manhã de um suposto golpe de Estado na Venezuela. Que preço terá isso? Pela expectativa de esperança que isso traz a tantos, até nossos compatriotas, que sofrem abandonados às mãos de um tirano. E a que preço? Pensava em tudo isto e lembrei-me da sensação de náusea que senti ontem, 29 de Abril, às 21h quando ouvi um preâmbulo de comentário, no jornal da noite da TVI, aos resultados das eleições espanholas. Ao ver Paulo Portas e Miguel Sousa Tavares pensei que fossem fazer de imediato uma análise profunda ao recente fenómeno VOX, e de como se justifica que, na primeira eleição nacional, tenham ficado apenas a 5 pontos do PP espanhol. A análise do dr. Sousa Tavares começa a pés juntos: “Primeiro, a questão espanhola é diferente. Nós não temos uma questão com autonomias, embora os regionalistas tentem por força que a gente tenha. Até agora ainda não conseguiram e vai ser muito difícil”. Bum. Logo assim, sem mais nem menos. O dr. Sousa Tavares pensa que a questão das regiões é forçada, como se não existissem regiões em Portugal, e ainda por cima vê o futuro. Deve ser por caçar muito na planície alentejana. Aqueles ares puros dão uma visão cristalina até ao horizonte. Isso e o facto de só estarem num raio de centenas de Km2 malta rica de Lisboa com espingardas e alguns alentejanos de gema para dar um toque autêntico à experiência. A exclusividade é óptima e toda a gente gosta. Mas Lisboa pode agregar o Alentejo numa mega-região, como aliás é imperativo que o faça para assegurar o seu futuro e viabilidade. Tipo Assembleia da República, com bandeira própria e tudo, com o lema “Grande área Metropolitana: de Leiria a Évora”. 
Depois passou a bola ao dr. Paulo Portas: “O Miguel e eu fazemos parte de um grupo de pessoas que se bateram, com todas as suas forças, para que Portugal não fosse inventar regiões políticas que não tinham qualquer justificação histórica, e que nos iam causar um problema a prazo enorme. Porque tudo começa com uma distribuição de competências e tudo acaba em caciquismos regionais que fazem chantagem com o interesse nacional”. Golo. Portas remata e é golo. Incrível. Tanta coisa para analisar e esclarecer, numa breve declaração introdutória, no comentário às eleições espanholas. Por falta de espaço vou concentrar-me no essencial. Primeiro: Portas e Tavares são bruxos. Pertencem a um grupo de pessoas que adivinha o futuro. Nunca se fez a Regionalização mas o dr. Portas já sabe que vai dar corrupção. Isto porque em Portugal não há corrupção. Mas se as regiões fossem uma realidade, imaginem o que não se diria sobre o país pelo mundo fora. 
Segundo: o medo rende. Concordo absolutamente. É um dos ingredientes políticos mais poderosos e funciona. Mas e o medo de Portugal não ser viável como país? E o medo da desertificação do país? E o medo de que a população do país passe para metade? Mas quantas pessoas querem abrir mão do Minho? Basta  imaginar um país sem o Norte e ver o que sobra. Terceiro: Mas os Açores e a Madeira não fazem parte de Portugal? Quarto: o que o dr. Portas e Tavares não querem sei eu. É que o país ganhe asas. Mas não para desaparecer, para se fortalecer em liberdade. É um medo que faz parte das famílias ricas de Lisboa e do Porto, das quais eles fazem parte, e que não querem dizer. Não convém muito espaço. Algum está bem. Na verdade, eu apenas defendo aquilo em que acredito. E defendo aqui o Minho. Um projecto autonómico Liga Norte não poderá estar contra ninguém. Nem contra o centro, nem contra o sul. Só vencerá se estiver a favor. A favor do Norte. Simples. A época dos barões de Lisboa acabou. Chegou o tempo dos Príncipes do Norte.