Governo não pode permitir que portugueses cheguem à linha vermelha

Fátima Anjos

2023-09-21


Está cada vez mais complicado comprar casa. A subida das taxas Euribor, que servem de referência à maioria dos créditos à habitação, tem sido contínua, tendo como consequência taxas de juro para compra de casa cada vez mais elevadas.
Mas também está cada vez mais complicado pagar a casa. O valor das prestações disparou e fez tremer os orçamentos de muitas famílias, ao mesmo tempo, que está muito difícil encontrar contratos de arrendamento a preços que se possam pagar sem que se coloque em causa tudo o resto, e o resto, para alguns, já é muito pouco.

Subiu tudo. O cabaz alimentar, o transporte (através do aumento do preço dos combustíveis)… Uma bola de neve. Por vezes, justificada, outras vezes, nem por isso… Haverá também algum oportunismo.  Ou muito.

Subiu tudo, menos os salários da maioria. Salva-se, para já, o emprego. É verdade. Vai existindo emprego. Mas o que é triste, frustrante até, é que chegamos a um ponto em que já não basta trabalhar para nos livrarmos de ser pobres. Não tenho dúvidas de que já haverá muita gente a sofrer. Basta fazermos contas. É sempre a somar.

Por outro lado, sabemos do pouco peso que Portugal terá nas decisões sobre as taxas de juro da Zona Euro que na, última quinta-feira, subiram pela décima vez consecutiva. Apesar de, pela primeira vez, o Banco Central Europeu  ter aberto  a porta a que o ciclo de subidas das taxas de juro iniciado em julho de 2022 tenha chegado ao fim, é mais do que natural que haja quem desconfie e viva com ansiedade a possibilidade de uma subida que venha a bater na linha vermelha. E mesmo que isso não aconteça também não é expetável um regresso a curto prazo dos valores de há um ano. Por isso, parece só haver dois caminhos possíveis. Ou o trabalho em Portugal começa a ser valorizado e assistimos à subida dos salários ou o Governo tem imediatamente, e pode aproveitar a oportunidade do Orçamento de Estado de 2024 para o fazer, de aliviar a carga fiscal. 

É uma ótima chance para a classe política mostrar que verdadeiramente se importa com os cidadãos e com a forma como vivemos. Atenção, que viver é muito diferente de sobreviver.