Desta vez, a convergência fez-se ao Centro

Fátima Anjos

2024-03-28


A eleição do novo presidente da Assembleia da República foi apenas uma amostra do que poderá vir a ser o mandato para o qual está indigitado Luís Montenegro, o mais recente Primeiro-ministro de Portugal. 

Depois de nem há terceira ter sido de vez e da nova votação ter sido adiada para mais tarde, os jornalistas já interrogavam António Filipe se a solução poderia passar pela sua permanência na liderança da Assembleia da República, quando apenas tinha sido convidado, pela sua longevidade no plenário, a dar posse aos deputados eleitos no passado dia 10 de março. Ele que foi  eleito pela CDU, partido que já prometeu uma Moção de Censura ao Governo AD.

Mas eis que à quarta tentativa surge a solução, uma presidência repartida entre AD e PS, num processo ao estilo “Big Brother”, com tudo a acontecer em direto e a ser emitido pelas televisões por cabo em contínuo, com reações a quente e colocando a nu o que maioria já vem sentindo: muito antes dos interesses do país e dos portugueses, lamentavelmente, em algumas frentes, parecem estar os interesses e jogos partidários.
 Se foi assim agora, com a simples eleição do presidente da Assembleia da República, questionamo-nos como será possível ao Governo da AD apresentar e ver aprovado o seu Programa de Governo?
Além de que esta presidência repartida pouco se reproduzirá na prática, porque todos imaginarão que, dificilmente, teremos uma Legislatura com uma duração que permita ao PS eleger, daqui a dois anos, um presidente para substituir nas funções José Pedro Aguiar Branco.  

Pelo menos, deste episódio, a AD deverá retirar uma lição. Já deverá saber a que porta deve bater em primeiro lugar quando precisar de negociar as matérias menos consensuais. Isto se o Não continuar a ser um Não.
Desta vez, a convergência fez-se ao Centro. Resolveu-se, pelo menos, um impasse institucional. Veremos numa próxima. Será mais difícil.