Carta de Amor

Fátima Andrade

2019-03-21


19 de março é marco importante nesta cidade termal que levanta os braços bem alto na firme certeza de que nunca será esquecida, envolvida que está nas profundezas literárias, arrancadas da pena e da alma de um sem número de escritores, poetas, poetisas, músicos e “…toda essa gente de uma  arte  obscura que nos dificulta a vida com os seus pensares de definições sentimentais  para tudo e para nada que até, diga-se de passagem, não se devem definir: só sentir.”
Li a frase anterior num qualquer livreco de capas já descoradas que mau grado a degradação visível, ainda mantinha intacto o título “ As coisas que só o Amor define”.
Foi isso que me deu o mote: Não falar de amor porque não o consigo definir, mas arrancar o que sinto cá bem fundo e que guardo num pudor virtual, como se só a mim pertencesse.
Lembro-me de ti, arrastando os pés, numa luta sem quartel na qual não queres ser vencido. Frágil mas dizendo sempre que “estou ótimo”. Não cedes ao tempo, ou melhor àquilo que o mesmo te fez. Mesmo assim, caminhas, levantando a cabeça num gesto nobre de quem ama a vida e a agarras com todas as forças.
Como o tempo corre! Ontem tão pujante e cheio de objetivos que continuas a querer concretizar, tentando agarrar com força todos os anos que desejo ainda tenhas para viver.  E, hoje, eu que sou avessa a seguidismos estabelecidos de dias e datas para tudo e para nada, não consegui ficar indiferente em dirigir-te, a ti e a todos os pais do mundo, àqueles que nos ajudaram a dar os primeiros passos na vida, nos deram e dão conselhos como se nunca tivéssemos crescido, continuado com as nossas vidas, escolhido os nossos percursos, definido objetivos, concretizado sonhos, sofrido deceções e, no meio de toda essa uniformidade desconforme chamada Vida, lá estão eles os pais - os verdadeiros, de olhar concentrado nos nossos gestos, tentando adivinhar os nossos pensamentos, pretendendo conhecer e derrubar todos os obstáculos que, eventualmente, nos impedirão de sermos completamente felizes.
Engraçado, hoje, 19 de março, o dia da festa merecida das gentes que nunca desistiram do seu sonho – das gentes de Vizela - pensei em ti e na tua perseverança, no teu incansável labor, na tua resiliência revestida de amor, para que da nossa vida (minha e dos meus irmãos) fossem afastados os espinhos naturais nas vidas de cada um de nós.
E dei comigo a pensar que o dia te seria também dedicado a ti, nem que fosse em pensamento. E que essa seria a melhor forma de prestar homenagem a todos quantos encheram as ruas num grito de amor pela sua Terra, que eu segui e aplaudi. 
E no mais íntimo do meu ser, quero que saibas sempre o quanto eu te amarei para sempre, aqui e em qualquer lugar do mundo. Porquê?
Porque tu és o meu pai. Contigo aprendi a partilhar, a tolerar, a lutar.
Obrigada, pai. Amo-te.