Calçar os sapatos do outro

Maria do Resgate Salta

2021-05-13


Quem determina quando haverá mudança na nossa vida? Não é o calendário, não é um aniversário, nem um ano novo. É um acontecimento. Grande ou pequeno, bom ou mau, mas algo que nos mude. De preferência que nos dê esperança. Uma nova maneira de viver e de olhar para o mundo. Desfazendo-nos de velhos e inúteis hábitos. O importante é nunca deixar de acreditar que podemos ter um novo começo, mas também é importante lembrar que existem momentos, que valem a pena serem guardados. Porque, mesmo mudando, somos esses importantes momentos.

Esta pandemia veio provocar uma mudança na nossa vida. Mudança em várias vertentes. Uso de máscara, distanciamento social, sem beijos, nem abraços. Desinfecção frequente das mãos. 

Muito trabalho para alguns e pouco ou nenhum trabalho para muitos. Muitas empresas tiveram a capacidade de reinventarem os seus produtos. Outras, por inércia ou falta de capacidade, fecharam.

Esta pandemia veio para nos alertar! Que a vida é uma passagem e que nada é certo (a não ser a morte). Que, apesar das diferenças económicas, educacionais, culturais, somos todos iguais perante uma doença grave e mortal. Com as nossas diferenças somos todos iguais perante a vida e a morte.

Mesmo assim muitas pessoas, movidas pela ganância, prejudicaram muitas mais. 

Essas pessoas esquecem-se que nada levam desta vida efémera. A única coisa que levamos é a nossa atitude perante a vida e quem de nós necessitou. 

Mas também se geraram ondas de solidariedade! Da sociedade civil. De empresas e de associações. Cá dentro. E para países de parcos recursos. 

E no final desta pandemia o que vou guardar? Os momentos de muito trabalho, das conversas com os meus utentes em isolamento, da solidariedade. 

Vou guardar as gargalhadas que dei em dias de exaustão física e mental. Vou guardar as reuniões rotárias feitas online. Sem os habituais abraços e beijos quando nos cumprimentávamos. Mas cheias de vontade de ajudar e de trabalhar em favor do próximo. E no fim destas reuniões fico sempre melhor. Com um sentimento de gratidão. À vida. 

Vou guardar o dia em que estive quase a desistir e abandonar o trabalho. Foi a uma sexta-feira a meio da tarde (à sexta-feira trabalho até às 20h). Sentia uma fadiga enorme. Que me consumia e me abatia. Estava a chegar ao "chão". E não o fiz porque "calcei os sapatos" de uma colega que estava pior que eu. Reergui-me. Fui ter com ela. Ajudei-a. E, como por milagre, a fadiga passou. 

Mesmo com as voltas retorcidas da minha vida consigo "calçar os sapatos" de quem está pior que eu. E doando-me, recebo. Recebo energia para viver. 

Tentem "calçar os sapatos" de quem necessita de ajuda! Tentem “calçar os sapatos” do outro. 

O Lema de Rotary Internacional "Dar de si sem pensar em si" faz tanto sentido.