Bom era que o futebol não precisasse de policiamento
Zélia Fernandes
2024-02-08A greve e o protesto são direitos que assistem a todos os trabalhadores, igualmente aos policias que têm manifestado o seu descontentamento para, com as condições de trabalho, assim como com os seus salários. Por outro lado, são ações envoltas de contornos discutíveis, como a questão das baixas médicas ou a ameaça apontada às eleições legislativas.
As manifestações já vinham a acontecer até ao passado fim de semana sem causar constrangimento de maior, até terem chegado ao futebol, que acredito tenha sido palco privilegiado para o protesto, por força da sua exposição mediática.
A falta de policiamento sem aviso motivou, no sábado, o adiamento do Famalicão-Sporting e levantou logo a discussão, primeiro pelo calendário apertado da Liga e depois pela situação da perda do primeiro lugar por parte do Sporting, ainda que tenha sido à condição. E por muito que quiséssemos todos que o futebol fosse um espetáculo sem necessidade de policiamento, a prova provada de que não o pode ser, aconteceu logo em Famalicão, onde alguns adeptos aproveitaram para arranjar confusão, mesmo fora do estádio.
Esse sim é o grande problema do futebol, são todos aqueles que vão ao estádio com o intuito de semear a desordem e não para ver futebol. Que fazem com que o futebol seja cada vez menos um espaço para famílias, que seja um risco levar uma criança ao estádio, ou que dois amigos, adeptos de clubes rivais, mas não inimigos, não possam ir juntos a um qualquer dérbi ou clássico. São estes que tornam indispensável o policiamento para que o jogo seja realizado.
O resto, que se tem visto por estes dias e mesmo aquilo que aconteceu no domingo, antes do jogo entre o FC Vizela e o Vitória de Guimarães, é já consequência de tudo o que tinha acontecido na véspera. É já um dirimir de argumentos, entre a Liga Portugal, com um discurso duro a fazer exigências ao Governo, do poder político a fazer valer a sua autoridade e das revindicações das forças de segurança, que vão buscando novas formas de protesto.
Esta falta de policiamento nos jogos portugueses até já chegou a quem gere o futebol na Europa, já que as provas europeias de futebol têm regulamentos pouco flexíveis quanto ao adiamento de jogos, contexto que, no limite, pode castigar os clubes portugueses com sanção de derrota, em caso de carência de policiamento nos estádios.