Agora é que vamos provar se Portugal é ou não um país milagre

Fátima Anjos

2020-04-29


948 mortos, 24.322 casos de Covid-19 em Portugal. São os dados desta terça-feira, dia 28 de abril, altura em que fechávamos a edição desta semana do RVJornal. Entretanto, também foi confirmado o levantamento do Estado de Emergência. Terminará à meia-noite de sábado.
Iniciaremos uma fase diferente com regras que serão conhecidas na quinta-feira, certamente diferentes. Mas uma coisa será certa: teremos de assumir a nossa responsabilidade nos passos que continuaremos a dar na luta contra a Covid-19. Todos já estaríamos cientes de que o início do desconfinamento seria uma inevitabilidade, pois se não morrêssemos com o vírus, correríamos o risco de “morrer à fome”. Mas também devemos saber agora que se dermos dois passos atrás, o risco de sermos infetados por Covid-19 ou de vermos afetada a nossa sobrevivência será ainda muito maior.

Em declarações ao Jornal Económico, Isabel Jonet que trabalha há 27 anos no Banco Alimentar, dizia esta semana que nunca viu nada assim, que não páram de aumentar os pedidos de ajuda alimentar e que tal é indicador de como “milhares de famílias caíram abruptamente em situação de desespero”.
Ao mesmo tempo têm-nos dito que somos filhos de um “País Milagre”. Acredito antes que será agora que seremos postos à prova. Fechar um país foi, sem dúvida, mais fácil do que agora proceder à sua reabertura numa realidade nunca antes vivida em que a prioridade terá de continuar centrada na proteção da saúde pública. Isso é que vai definir tudo o resto.
Se estamos com receio do que aí vem? É normal. É uma reação natural perante o desconhecido e, principalmente, numa altura em que o corpo e a mente poderão começar a dar sinais de alguma fragilidade. Ninguém estava preparado para uma quarentena. 
Mas agora vamos sair dela. Com muita calma. E de máscara no rosto. Será fundamental que o façamos. Sem vacina, não há para já outra forma de combater a doença, senão a de tentar evitar que a mesma se propague na nossa comunidade. É importante que possamos perceber que Vizela se encontra com um índice de infeção significativo – 95 casos – numa região muito afetada pela Covid-19. Não é nenhuma brincadeira. 
Contudo, e apesar de todas as dificuldades que aterraram de repente nas nossas vidas, é importante que possamos parar e retirar algo de positivo desta fase de recolhimento. Não, não vou dizer que as nossas casas estão mais limpas que nunca. Mas arrisco-me a afirmar que talvez nunca tenhamos estado com os nossos como estamos agora. 
E são esses laços que se fortaleceram que nos ajudarão a enfrentar tudo o resto, num espírito também ele comunitário, para que a nossa terra e o nosso país sobrevivam a esta crise, sem deixar para trás o seu povo.