A propósito dos zumbidos

João Cocharra

2023-09-14


Também designados por tinnitus ou zumbidos, os acufenos correspondem à perceção de um som, no ouvido ou na cabeça, uni ou bilateralmente, sem a existência de um estímulo externo. Podem ter origem em qualquer parte do sistema auditivo e são um sintoma muito comum que pode afetar pessoas de qualquer idade ou género. Contudo, ocorrem com mais frequência nos homens. É importante reforçar que são um sintoma e não uma doença. O tipo e intensidade de som varia de pessoa para pessoa. Este pode ser constante, intermitente ou pulsátil. Estima-se que afetem cerca de um em cada cinco indivíduos. Embora sejam causa de incómodo, raramente traduzem uma patologia grave e, embora possam piorar com a idade, na maioria dos casos são tratáveis.

Sintomas 
Correspondem a uma sensação desagradável de som na ausência de um estímulo sonoro. Podem ser campainhas, buzinas, comboios, cliques, entre outros. Estes sons-fantasma podem variar de intensidade e podem ocorrer num ou nos dois ouvidos. Em alguns casos, o seu volume é tão alto que interfere com a capacidade de concentração ou na audição de sons reais. Podem ainda estar sempre presentes ou serem intermitentes.
É importante reforçar que afetam de modo significativo a qualidade de vida dos doentes, causando fadiga, stress, alterações no sono e na concentração, problemas de memória, depressão, ansiedade ou irritabilidade. O tratamento destas condições, mesmo sem reduzir os acufenos, ajudará o paciente a sentir-se melhor.
Causas
Podem associar-se a diversas condições, como a diminuição da audição, vertigens, acumulação de cerúmen, alguns medicamentos (antibióticos, diuréticos, antidepressivos, aspirina), infeções, traumatismos do ouvido ou cranioencefálicos, doenças cardiovasculares ou dos ouvidos e exposição ao ruído.  Em muitos casos, não se consegue identificar a origem exata. Uma das mais comuns é a lesão do ouvido interno. A perda de audição associada à idade, sobretudo depois dos 60 anos, é também uma causa frequente. A exposição ao ruído é importante no contexto profissional e ocorre ainda associada ao uso de auscultadores para ouvir música. Nestes casos, os acufenos podem ser de curta duração, como acontece após um concerto, ou serem mais prolongados, traduzindo uma situação mais grave. Podem ainda surgir associados à Doença de Ménière, a alterações da articulação temporomaxilar ou vasculares, como a aterosclerose ou a hipertensão arterial, e a lesões tumorais. O tabaco é também um fator de risco para o seu desenvolvimento.

Diagnóstico
O exame médico é muito relevante e deve englobar os ouvidos, cabeça e pescoço, para tentar detetar a sua causa. Este engloba tipicamente um audiograma, a avaliação do movimento e estudos por imagem (tomografia ou ressonância). Em muitos casos, a sua origem não é detetada e é importante definir a melhor estratégia para minimizar o seu impacto na vida dos pacientes. Aqui o papel do especialista (Otorrino) é muito importante.

Tratamento
O tratamento irá variar consoante a sua causa e, portanto, diferentes motivos têm abordagens diferentes. A maioria das abordagens utilizadas recorre a medicamentos ou terapêutica designada por TRT (Tinnitus Retraining Therapy). Nesta técnica, recorre-se a um dispositivo portátil programado para mascarar as frequências específicas dos acufenos de cada paciente. Ao longo do tempo, este método permite que o doente se acostume aos seus acufenos, passando a estar menos focado neles. A remoção de cerúmen dos ouvidos pode ajudar a reduzir os sintomas. E sempre que existirem alterações vasculares, elas deverão ser tratadas. É ainda importante rever toda a medicação em curso, porque, como se referiu, algumas terapêuticas podem ser a sua causa.
Os medicamentos não tratam os acufenos, mas podem minimizar a gravidade dos sintomas. Neste contexto, podem ser relevantes os antidepressivos ou alguns sedativos.

Prevenção
A prevenção passa por evitar a frequência de locais ruidosos. Se tal não for possível, é fundamental recorrer a proteção auditiva adequada. É também importante evitar a ingestão de café, chá preto, chocolate ou outras substâncias que contenham cafeína e reduzir o consumo de tabaco e bebidas alcoólicas. A pressão arterial deve ser controlada. Finalmente, quando se utilizam auscultadores para ouvir música, deve manter-se o volume num nível não muito elevado.