A propósito do Dia Internacional da Mulher,

Armindo Faria

2019-03-14

De boas intenções está inferno cheio. Diz o Povo e com razão.


Na senda do que vem sendo uma tradição, (aliás, muitas vezes descontextualizada), no pretérito dia 08 do corrente mês de Março, uma vez mais e de distintas formas, celebrou-se (?!) o Dia Internacional da Mulher. 
Cada um do seu jeito ou com a sua intenção, através de declarações bonitas, solidárias, em manifestações floridas, reuniões, jantares - informais ou organizados (alguns, inclusive, parecem ter-se perdido) e silêncios institucionais, alegadamente solidários mas que, de facto, não passam de omissões hipócritas vindas de quem, mais do que outros, caberia legislar para por cobro à necessidade de tantos e tantos, quantas vezes fúteis, eventos que fazem parte do calendário de opor-tunidade dos seus agentes,  mas todos anunciados, divulgados e propagandeados à exaustão! 
Mas hoje, o dia seguinte, o que verdadeiramente importa é saber como serão os tempos vindouros.  
A violência doméstica vai, finalmente, merecer por parte de quem de direito as necessárias atenção e responsabilidade, cuidadas, sérias, formadas e informadas?!
Ou, pelo contrário, ora permanecerá escondida no recato do lar, ora escancarada nos noticiários e nas páginas dos jornais e das revistas, sejam mais conceituados ou cor de rosa, (neste caso, bem negros) em quaisquer das actuais plataformas de comunicação desregrada, desinformada, quantas vezes falha de ética e manipuladora da iliteracia quase geral que a muitos convém manter?!
E a igualdade de género ou, dito de forma mais radical, a eliminação a todos os níveis das barreiras entre Mulheres e Homens, é matéria para levar a sério, ou, também, vai continuar assunto para debate anual?!
Continuaremos dependentes da pobreza de espírito daqueles que, de facto, detêm o poder de fazer algo para inverter este estado de coisas e construir políticas de verdade que, real e efectivamente, aportem passos seguros e importantes para acabar com este cancro social, resultante da ainda e inconcebível gritante falta de educação de muitas gerações, incluindo a actual? Mas a triste realidade acima enunciada, essa, também acredito, com mais ou menos incidência estatística vai permanecer.
E assim continuará até que, de uma vez por todas, a sociedade civil em geral e cada um de nós em particular, entenda que já passou o tempo de enterrar a cabeça na areia e, fazer de conta que quem nos (des)governa nada pode fazer.
Bem sei que é em casa, entendida esta como seio do ambiente familiar, que começa a verdadeira educação das crianças e dos jovens para todas as problemáticas em apreço.
Mas, também, não ignoro que a Escola, desde bem cedo, deverá assumir em pleno o trabalho meritório, quiçá o mais importante de, por um lado, dar continuidade ao que os jovens trazem de casa e, por outro lado, corrigir os comportamentos daqueles que, por razões diversas, não puderam aceder à educação dentro do agregado familiar.
Enquanto, a meu ver, não forem implementadas e desenvolvidas medidas concretas, mas permanentes, nas escolas, nas empresas e instituições em geral, vamos continuar a ser  massacrados com as notícias alarmantes, por vezes, oportunistas e demagógicas, na maioria dos casos, mas todas revoltantes e relativas ao relato de episódios casuísticos de violência doméstica e à contagem - a estatística macabra - do número de seres humanos - Crianças, Idosos, Mulheres e Homens - violentados nas suas integridades física, psicológica, dignidade, morte incluída!
Malogradamente, acredito que, para o ano, no dia 08 de Março e em cada um dos dias oito dos meses de Março que se lhe seguirão, enquanto se mantiver o status quo vigente, renovar-se-ão as (falsas) esperanças com mais declarações solidárias, com belas imagens de floreados eventos, reuniões e jantares de confraternização anuais e  de uma noite em que muitas Mulheres terão um dos seus raros ilusórios momentos de igualdade e liberdade.
Mas, oxalá esteja enganado. E que, se o estiver, que seja porque quem de direito e, obviamente, com a colaboração de todos nós, finalmente arrepiou caminhos, conceitos e preconceitos e, de uma vez por todas, aceitou travar feroz batalha contra os descritos flagelos.
Ainda que reconhecendo, a contragosto, é certo, que está muito por fazer, os responsáveis por este país continuarão a dizer que foram já dados passos importantes nesse sentido. Mais dirão que sabem o que é necessário fazer para tal.
Então, se assim é, de que estão à espera para o fazer?!
De boas intenções está o inferno cheio. Diz o Povo e com razão.