RUS deixará Vizela “irreconhecível”

Quem o garantiu foi o autarca Victor Hugo Salgado. O Plano de Ação engloba um investimento de 3,5 milhões de euros.

Foi ontem à tarde que a Câmara Municipal de Vizela (CMV) apresentou o Plano de Ação Regeneração Urbana Sustentável (RUS). Em causa estão 12 obras de requalificação, num investimento total de 3,5 milhões de euros, dos quais 2,5 milhões são comparticipados pela Administração Central e pelo Quadro Comunitário 2020, sendo que o restante investimento, 1 milhão de euros, advirá de verbas da CMV e da Junta de Freguesia de Caldas de Vizela.

Plano contempla 12 obras de requalificação

De acordo com o presidente Victor Hugo Salgado, este Plano encontra-se em execução desde que assumiu funções na liderança do Município e abrange o centro urbano da cidade de Vizela. Em causa estão intervenções na Praça da República, Jardim Manuel Faria, Rua Dr. Abílio Torres, Av. dos Bombeiros Voluntários, Rua Dr. Pereira Caldas (Rua da Rainha), Rua Joaquim Pinto, Rua Ferreira Caldas e Av. Eng. Sá e Melo. Estão também abrangidas a requalificação do Parque das Termas, a criação da Ciclovia Municipal e do novo Parque de Estacionamento junto ao Fórum Vizela, bem como a reconversão do antigo Matadouro na Casa da Cultura.

“Para falarmos da última requalificação urbana no centro da cidade teríamos de recuar mais de dez anos, enquanto nós já requalificámos a Rua das Termas e estamos agora a trabalhar na Rua Dr. Pereira Caldas”, atirou o autarca, afirmando que o objetivo é que o investimento público do RUS possa vir a ser acompanhado pelos particulares, tendo em vista este processo de Regeneração Urbana.

Particulares poderão aceder à Loja Histórica ou ao Vizela Reabilita

Daí que também tenha mencionado dois programas lançados pela CMV e que se encontram em fase de conclusão. O primeiro dá por nome de Loja Histórica e visa a atribuição, no início de 2020, dos primeiros dez cheques de 3 mil euros aos comerciantes que decidirem revitalizar os seus estabelecimentos comerciais. Já o segundo - Vizela Reabilita - propõe-se a incentivar as intervenções de reabilitação urbana e restauração do património edificado. Distinguirá as três melhores requalificações de fachadas: 4000 euros para o primeiro classificado, 2000 euros para o segundo e 1000 euros para o terceiro.

RUS é para executar nos próximos três anos

Do RUS consta um período de ação que se prolongará durante os próximos três anos e, defendeu Victor Hugo Salgado, significará “uma mudança radical e profunda do centro da cidade de Vizela”. “Ficará irreconhecível”, garante o presidente da CMV. Disse ainda o autarca que parte do investimento previsto consta já do Orçamento em execução e que o restante fará parte do próximo.

Quis ainda ontem à tarde vincar o presidente do Município que a Regeneração Urbana visa também a sustentabilidade ambiental no centro urbano, daí estar prevista a criação da Ciclovia, a intervenção em curso no Parque das Termas e a limpeza e manutenção do Rio e suas margens, cujo projeto já se encontra aprovado e conta com o apoio da Agência Portuguesa do Ambiente.

Um projeto que, no seu todo, permitirá, de acordo com o responsável, a sustentabilidade económica do concelho: “Os que cá vivem terão uma nova vida e existirá também um novo incentivo para os comerciantes porque esta intervenção será motivo para que tenhamos mais pessoas a visitarem Vizela”.

Intervenção no Parque prevê transplantação de algumas espécies arbóreas

Coube depois a Vânia Guimarães, engenheira ambiental na CMV, falar do Plano de Arborização do Parque das Termas e que implica uma ação planeada entre Município, Junta de Freguesia de Caldas de Vizela, Companhia de Banhos e Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas. Recordou a responsável que aquilo que se pretende para a área até agora designada como sendo “zona de monte ocupada por eucaliptos e acácias” é o aumento da área arbórea, a valorização da estrutura de caminhos, a criação de uma plataforma multiusos que possibilite a concentração de pessoas e a ocorrência de atividades lúdicas e de entretenimento, bem como a recuperação do coreto e do edifício antigo anexo ao tanque principal.

Por esta altura, já foram abatidos os eucaliptos e extraídas as raízes, o que obrigou à remodelação do terreno. Foi também iniciada a criação de caminhos pedonais e a colocação de plantas. Em causa estarão espécies como o cipreste, o pinheiro manso, o sobreiro, o medronheiro e o carvalho-alvarinho. Mais à frente, na primavera de 2020, a CMV pretende iniciar “com calma”, frisou Vânia Guimarães, a transplantação de algumas espécies arbóreas e de valor que se encontram em outras áreas do Parque das Termas.

Lembrou ainda a responsável que para a criação da plataforma multiusos será usada a técnica de hidrocimenteira, resistente a impactos, a mesma técnica que será aplicada nos taludes, que vão receber flores para exponenciar a atratividade do local.

Av. Eng. Sá e Melo com intervenção no pavimento e passeios

Da apresentação do RUS constou também a intervenção de Luís Gomes. O arquiteto na CMV começou por falar na intervenção que será levada a efeito na Av. Eng. Sá e Melo e que se encontra englobada numa candidatura submetida ao Plano de Ação de Regeneração Urbana. “Em breve entrará em execução, sendo que a intervenção terá início junto à Rotunda dos Rotários e fim na Rotunda dos Bombeiros”. Parte da via, junto ao Centro de Saúde e Estação da CP; contemplará intervenção no pavimento e nos passeios, já mais à frente, em direção à Rotunda dos Bombeiros, esta ficará pelo pavimento. Revelou, no entanto, Luís Gomes que as passadeiras serão elevadas até à quota dos passeios e serão criadas faixas de encaminhamento e alerta para invisuais. O objetivo será melhorar as condições de quem tem mobilidade mais reduzida em toda a cidade. “Esta tem de ser para todos”, frisou.

Substituídas as árvores e alargados os passeios na Av. dos Bombeiros

Também a Av. dos Bombeiros Voluntários será intervencionada. Referiu o arquiteto que esta sofre com dois problemas, mas que um deles, o da inclinação acentuada, não poderá ser resolvido. O segundo está relacionado com as “árvores” que se encontram a danificar os passeios e que serão substituídas, sendo que o objetivo será também aumentar a área destinada ao passeio e à faixa de estacionamento, o que permitirá o aumento de lugares e uma área destinada ao acondicionamento de bicicletas “Desta feita, a faixa de rodagem passará de 7,80 para 7 metros”, disse Luís Gomes, revelando que será ainda criado um corrimão de um dos lados da avenida para auxiliar quem se faz transportar de cadeira de rodas.

Ciclovia ligará EB2,3/S de Infias à Cascalheira

Logo depois, o arquiteto municipal centrou as suas atenções na requalificação da Rua Dr. Abílio Torres e que está inserida numa candidatura submetida ao Plano de Ação de Mobilidade Urbana Sustentável (PAMUS). Desta intervenção constará a requalificação dos passeios e passadeiras, bem como a colocação de iluminação de barreiras arquitetónicas.

Desta candidatura ao PAMUS consta ainda a criação da ciclovia municipal, que terá início junto à EB2,3/S de Infias, seguirá na estrada paralela à Nacional 106 e atravessará na zona da Câmara, onde será alargado o passeio e retirado o estacionamento. Aí será criada uma via mista - para bicicleta e peões - que seguirá em direção à GNR, Rotunda dos Dadores de Sangue, culminando na Cascalheira. “Ao longo da ciclovia serão criados pontos com bancos, bebedouros, aparcamentos e outros equipamentos de apoio”, disse o responsável, que fez ainda referência à criação do parque de estacionamento junto ao Fórum Vizela e que se traduzirá na criação de 102 lugares.

Estudo de tráfego em curso

Entretanto, encontra-se em curso um estudo de tráfego e circulação e que está a ser concebido pela empresa TIS (Transporte Inovação e Sistemas). Já se fez representar em Vizela e enviou um relatório preliminar. A CMV aguarda agora pelo relatório final para retirar as suas conclusões e agir em conformidade.

Já sobre a Casa da Cultura, garantiu Luís Gomes que o antigo edifício do Matadouro será todo recuperado. A atual estrutura atual vai manter-se, mas há um “novo corpo” que será criado, onde ficará localizado o bar de apoio e os sanitários. Já no edifício central ficarão dois gabinetes de trabalho, uma sala de exposições e um pequeno auditório.

Devolver os espaços públicos às pessoas é o objetivo

“Com a intensificação do crescimento urbano, a cidade e as formas de vida humana colocaram novos problemas que exigem de nós soluções. A reforma do espaço público é uma peça importante no âmbito do fenómeno urbano e é, sobretudo, sobre o arco de intervenção do Estado e de alguns privados que se albergam saberes e práticas que, de forma decisiva, transformaram as práticas das ruas numa relação sempre constante”, assim começou a intervenção que se seguiu e que pertenceu a Abel Cardoso. Também ele arquiteto na CMV defendeu que “a rua deixou de ser um mero canal de ligação de casa ao trabalho e passou a ser parte integrante de um espaço público mais livre, mais acessível, mais democrático, mais integrador e mais sustentável. Vizela aposta também nessa transformação, nessa dedicação dos espaços públicos às pessoas”.

Cotas das ruas continuarão a subir até muito perto dos passeios

Daí que os vizelenses já tenham notado diferenças nas intervenções na Rua das Termas e, mais recentemente, na Rua da Rainha. O autor dos projetos é Abel Cardoso: “Uma decisão que tomamos e que foi fundamental é que pegamos na cota da rua e subimo-la quase até à cota dos passeios, deixando apenas uma pequena marca, dois centímetros de diferença, o que permite a quem anda pela cidade ter uma leitura de passeio alargado. Este corte transversal será transmitido a todas as intervenções que estamos a promover na cidade de Vizela”.

Na Rua da Rainha serão criados lugares para cargas e descargas, sendo que a metodologia de intervenção vai manter-se na Rua Joaquim Pinto e na Rua Ferreira Caldas. “Mas, nesta última, por uma questão histórica vamos manter os lajeados que lá se encontram e substituir os partidos. Já na Rua Joaquim Pinto alargaremos os passeios para evitar o estacionamento indevido, que dificulta depois a passagem de veículos pesados. Prevemos ainda a criação de um estacionamento específico para horas de ponta para servir os pais que têm os filhos na escola”, acrescentou o arquiteto.

“Vontade de voltarmos a afirmar-nos enquanto espaço público”

Também Filipe Costa, este arquiteto externo à CMV e autor dos projetos de requalificação da Praça da República e do Jardim Manuel Faria, defendeu ter chegado o momento de devolver a cidade às pessoas. Entende que as cidades estão em constante alteração e que Vizela ficou presa aos tempos áureos que viveu no final do séc. XIX e XX, o que fez com que esta ficasse presa no tempo. “Mas nós evoluímos e essa mudança também tem de ser refletida na cidade. Temos de encontrar soluções para voltar a trazer as pessoas até si. Caso contrário tornar-se-á numa cidade quase fantasma”, afirmou o arquiteto. E reafirmou: “É importante devolver os espaços públicos às pessoas e esse é o fundamento da proposta que apresentamos para a Praça da República e Jardim Manuel Faria e, por isso, desde logo, “cozemos” estes dois espaços, que agora serão alargados pelo facto de em outras ruas a cota automóvel ser elevada à cota do passeio”. “Esta apresentação tem muito a ver com um renascer e a vontade de voltarmos a afirmar-nos enquanto espaço público, dando uma nova imagem à cidade”, rematou Filipe Costa.

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