Padre José Lemos assinala hoje 55 anos de sacerdócio

Centro Social que será inaugurada amanhã é mais uma obra do timoneiro da paróquia de Santa Eulália.

“Os valentes venham comigo e vamos ainda fazer muito mais para os nossos vindouros nesta linda terra”

 RVJornal (RVJ) – Esta nova valência era uma necessidade na Vila de Santa Eulália?

Padre Lemos (PL) - Esta casa estava subaproveitada. Tínhamos o Centro de Dia cheio e já que não nos podíamos atirar para um lar novo, uma vez que temos um lar bastante bom [Casal do Telhado], e é preciso que outros façam também. Não podemos ser só nós que isto já é uma obre de uma certa monta. Pensamos num Centro de Dia aqui, porque estava subaproveitado. E a Câmara, mais precisamente o dr. Victor Hugo Salgado incentivou-nos e cá estamos.

RVJ - Foi um passo fácil de dar?

PL - Foi relativamente fácil, a Segurança Social não se comprometeu, devido ao problema económico, dava-nos uma comparticipação que era muito irrisória [meia dúzia] de tostões, portanto avançámos com a Câmara. Atirámo-nos então para fazer aqui um Centro de Dia, de acordo com as exigências atuais. Mas acabaram por sobrar salas e o problema que agora me preocupa é um bocado esse. Sobravam espaços que iriam ficar envelhecidos [tinham 20 anos ou mais]. Fui falando sobre isso, fui dizendo ao presidente e ao vice-presidente da Câmara, para ver se nos ajudavam e decidimos requalificá-las também. Irão ser precisas certamente.

Posto isto, uma obra que estávamos a pensar que não chegasse aos 100 mil euros, já está em cerca de 160 mil, o que é muito dinheiro. Mas está aqui uma obra em condições, não vai ser toda aproveitada para Centro de Dia, mas que tem outras finalidades. Vai valer para o Centro Comunitário, para receber cursos que vamos fazendo aqui, formação e para outras necessidades. E um dia se virmos que o Centro de Dia precisaria de alargar, já teremos essa opção, essas salas para adaptar. Para já estamos com duas ou três salas, mas depois temos aqui mais duas salas grandes, com condições, com mobiliário para poderem ser adaptadas a Cento de Dia.

RVJ – Neste momento quais as vossas necessidades financeiras para conseguir saldar esta obra?

PL - A verba que falta ainda é bastante. Tínhamos aí uma poupança, como gestores responsáveis, perto de 50 mil euros e pegamos neles e já fomos andando com a obra. Foram cerca de 61 mil euros que arranjamos, das nossas poupanças. A Câmara deu-nos 35 mil euros, prometeu-nos dar-nos mais 20 mil euros brevemente, e o resto vamos a ver. Claro que já tivemos que nos endividar, pedimos a elementos da Direção, quer seja da Presidência, quer seja dos outros órgãos, fomos buscar também um bocadinho à paróquia. Devemos umas dezenas de milhares de euros, mas agora o que queremos é isto inaugurado, queremos que a pandemia Covid-19 nos deixe começar a trabalhar, que é a nossa preocupação. Sabemos que há gente a sofrer na freguesia porque está sozinha em casa, há idosos isolados, sem família, ou com família que não os pode socorrer porque tem de trabalhar. Passam ali dias e dias confinados ao seu quartinho e sós, enquanto os nossos ao menos vão tendo as nossas funcionárias que os vão ajudando.

RVJ - Ou seja, há muito trabalho pela frente para fazer face às dificuldades…

PL - Muito trabalho pela frente e agora o que precisamos é que as circunstâncias nos ajudem e que a pandemia nos deixe.

RVJ - Mas as valências de Santa Eulália, que estão sobre a sua gestão, estão habituadas ao sucesso. É o caso do Casal do Telhado que foi um sucesso em termos de envolvência da comunidade. É a mesma comunidade que poderá ter um papel importante na ajuda a esta causa?

PL- Sim, a comunidade sempre esteve, embora com limitações, porque realmente não temos assim economicamente bem muita gente. Mas vamos lançando a voz e somos ouvidos, estamos a receber sistematicamente ajudas de fora e é essa a minha esperança e fé. Tenho muitas obras na minha vida, nestes 55 anos que vou fazer sábado de padre, e quando as inaugurava não havia débitos, desta vez haverá.

RVJ - Mas é uma obra necessária…

PL - Era uma obra necessária e agora que a Covid-19 nos deixe ir buscar os “filhos da casa”. Ainda não os podemos receber, está proibido. Nem no Casal do Telhado, onde nesta valência temos um número equivalente, 30 utentes. Aqui também teremos capacidade para 30 utentes e ao todo teremos 60 em valência de Centro de Dia. É isso que hoje em dia é muito importante e que para mim me agrada muito, porque o Lar isola o utente um bocado da família, que estão cingidas às visitas, mas o Centro de Dia não,  tira os utentes durante o dia, mas à noite vão para a família. E a família é preciso salvá-la, essa ligação não pode morrer.  

RVJ – Neste novo espaço as vagas estão todas preenchidas?

PL - Não, já temos alguns pedidos, as pessoas vão sabendo que nós vamos poder admitir gente e há aqui uma esperança de que quando nós levantarmos a bandeira verde, que as pessoas comecem realmente a inscrever os seus idosos para começarem a vir para aqui. 

RVJ – Este novo Centro de Dia vai gerar empregos?

PL – Não muito. Já temos bastante gente e vamos aproveitar os recursos. A cozinha será a do Casal do Telhado (…) É possível que haja mais uma ou outra admissão. A psicóloga já cá está, só que vai ocupar mais o seu tempo cá dentro e não lá fora como tem acontecido. Mais uma ou outra pessoa para reforçar creio que será o suficiente.

RVJ - D. Pio Alves dizia-me que o senhor Padre Lemos é um exemplo pela sua dinâmica e por nunca desistir. Como é que recebe um elogio destes?

PL - É muito meu amigo, o senhor D. Pio Alves. Sou como outros, é o meu feitio. Realmente o meu prazer é ser útil aos outros, e, portanto, não fico parado e vou fazer, agora, tenho tido sorte de ir conseguindo sobretudo apoio daqueles que nos podem ajudar e que são normalmente entidades oficiais, estatais e autárquicas. Não sei porquê mas ajudam-me e estou-me a recordar de um autarca ainda de Lousada dizer “Padre Lemos nós não podemos, nós autarquia, as Fábricas da Igreja podem, atirem-se vocês, lancem-se que nós estamos por trás” – e é isso que realmente me tem animado porque sei que tenho as costas quentes.

RVJ - São muitas obras ao longo de 55 anos de sacerdócio que comemora no sábado…

PL - Muitas obras graças a Deus, muitas obras de ordem social, de ordem paroquial, desde residência, desde adros, desde espaços de adros. Entrei aqui por um caminho de carros de bois e tal, e alarguei, alarguei, tentei ainda alargar mais, mas fizeram-me uma casa e eu lutei para que essa casa não fosse feita porque eu ainda aspirava que a igreja ficasse mais desafogada. Até que chegou a hora realmente de se conseguir realizar esta obra, por isso é que é uma grande alegria minha também ver este espaço circundante da igreja tão lindo. Já ousei, não por vaidade nem por nada, dizer ao presidente da Câmara que achava que isto merecia outro nome, Alameda da Igreja (…) não sei se serei atendido.

RVJ – Como vê o resultado final da obra de requalificação do Adro?

PL - Uma Vila destas precisava aqui de um centro, digamos assim, de uma praça central. E agora com a igreja, que é bonita, que foi arranjada também ao longo destes meus anos, está tudo muito bonito.

Quem me conhece sabe que não sou homem de vaidades. Ainda há pouco uma das nossas funcionárias lá em baixo no Lar, dizia que eu sou um homem que gosto de estar no meu cantinho, e vós notais isso, que eu mesmo para falar para a Rádio fujo o mais que posso. É do meu feitio, gosto de estar no meu cantinho e sou, como disse várias vezes, homem de bastidores e não de palco.

RVJ – Vai comemorar os seus 55 anos de sacerdócio este sábado?

PL - Não, lembraram-me esta semana e eu até disse: “Ó rapariga, eu não me tinha lembrado”. Fui ordenado no dia 01 de agosto de 1965.

RVJ – Não há festa este ano em honra de Santa Eulália, mas a eucaristia servirá para assinalar a padroeira?

PL - Será uma missa essencialmente de Ação de Graças. Quero agradecer ao Senhor tudo isto que temos feito, pedir a sua bênção, e tudo isto através da nossa padroeira cuja imagem vamos trazer para o nosso meio. A eucaristia vai começar com o andor, embora agora não há procissões nesta altura, fora da igreja, Ela vai-nos convidar a entrar na igreja e aí vamos então com ela. Vamos todos juntos dar graças a Deus por todas estas coisas bonitas que tem feito para a nossa terra. Vamos ter o senhor D. Pio Alves a presidir à eucaristia, e no fim então, teremos as várias inaugurações dos espaços à volta da igreja, depois os dois parques de estacionamento que foram refeitos, um parque infantil para os mais pequeninos, a Alameda toda, aquele espaço maravilhoso, com aquele palcozinho de pedra com uma surpresa que o Presidente de Câmara me pediu segredo. Será inaugurado ali algo mais. Depois vamos proceder à bênção do restauro do Centro Comunitário.

RVJ - Por trás de um grande homem está sempre uma grande equipa...

PL - Sim, está graças a Deus, vai-me acompanhando. Tenho tido apoio das Direções, da Comissão Fabriqueira, às vezes com as suas dificuldades, mas têm-me espicaçado. Às vezes zango-me, mas vou ter com outros que me animam e estou-me a recordar aqui à porta desta casa, uma vez, não encontrei a adesão da equipa que tinha chamado para colaborar, e a pasta que tinha na mão bati com ela no chão e disse – pronto acabou tudo. Mas estranharam isto no Padre Lemos e começaram-me a animar, repensei e fizemos a casa e as outras obras que se seguiram. Portanto, os outros ajudam a realizar o meu lema inicial que nunca me esquece, há 40 anos quando entrei aqui em Santa Eulália: Eu venho de S. Mamede de Negrelos para aqui, não para fazer coisas novas mas venho para ajudar a fazer. E tem sido o povo e sobretudo as entidades oficiais que me têm ajudado. O povo desta terra tem-me ajudado a ter esta riqueza, sobretudo de ordem social.

RVJ - Quer deixar uma mensagem à comunidade?

PL – A mensagem que deixo é Deus seja louvado por estas maravilhas que continua a fazer na nossa terra, continuemos juntos, continuemos unidos, continuemos a colaborar dentro das nossas possibilidades. Da minha parte, enquanto Deus me der raiz de capacidade eu vou, os valentes venham comigo e vamos ainda fazer muito mais para os nossos vindouros nesta linda terra. Mas mesmo geograficamente digo, não é por palavras assim só à toa, sempre gostei muito deste fundinho aqui, com estas encostas aqui ao lado, nomeadamente as encostas de S. Bento e as outras do lado já do concelho de Lousada. Este fundinho é realmente lindo, maravilhoso, com gente maravilhosa nesta terra.

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