O único da Península Ibérica a produzir tintas artesanais

Nascido e criado em Moreira de Cónegos, Leonel Costa, de 33 anos, é o responsável pelo ateliê Dartecor, onde produz tintas artesanais artísticas, de extrema durabilidade, mantendo a cor intacta. A alta qualidade da tinta a óleo que fabrica tem-lhe permitido trabalhar com alguns pintores, entre eles, Carlos Barahona Possollo, responsável pelo retrato oficial do antigo presidente da República, Cavaco Silva.

“Não se costuma nascer e dizer: eu quero ser conservador ou restaurador”. E a Leonel Costa isso também não aconteceu. Queria ser arquiteto, mas reparou que lhe faltava a criatividade necessária para ser um bom profissional dessa área. Ainda no ensino secundário conheceu um restaurador que lhe mostrou “este mundo”. Foi para Tomar, onde se licenciou em Conservação e Restauro, tirou o mestrado e especializou-se em escultura em madeira policromada. Durante sete anos trabalhou numa empresa da área e com o tempo foi-se apercebendo da paixão que tinha pelas técnicas de produção. “Estando na conservação e restauro, o conhecimento e o domínio sobre as técnicas de produção e as próprias obras de arte é fundamental”. “Antes de intervencionarmos uma peça, temos que perceber como ela foi construída, quais são as técnicas, os materiais”. “Na escultura antiga, arte sacra antiga, esses processos já estão bastante estudados, mas, por exemplo, na arte contemporânea isso já não acontece e muitas vezes a intervenção passa muito por estudar a peça”, explica Leonel Costa, que recebeu a Rádio Vizela, no seu ateliê, em Moreira de Cónegos.

Foi assim que nasceu a Dartecor e “em 2016 surgiram as primeiras experiências” no desenvolvimento tintas artesanais, artísticas, “direcionadas para as belas-artes, para os pintores, para os artistas plásticos, neste caso, estou muito focado nas tintas a óleo artísticas”. Inicialmente, o objetivo seria dedicar-se a 100% a este projeto pessoal, “uma visão um pouco romântica”, admite. Por isso, continua a fazer trabalhos de restauração e de conservação, contudo, uma área não se dissocia da outra, até porque, considera, “a restauração dá credibilidade ao produtor de tintas”.

 

“É uma tinta pura, sem misturas de cores, por isso é já escolhida por pintores portugueses e estrangeiros”

 

Leonel Costa tem trabalhado para Portugal, mas também já tem alguns projetos para o exterior. Sobre a potencialidade das tintas artesanais artísticas, salienta, entre outros aspetos, a “carga pigmentária elevadíssima”. “Ou seja, quando pintamos um quadro com esta tinta, a cor não desvanece”. “Estamos fartos de ver outdoors, painéis publicitários em que um vermelho passa a cor de rosa ou até desaparece em dois ou três anos”. “A garantia que dou com as minhas tintas é que elas duram duzentos ou trezentos anos, a pintura mantém-se intacta”. “De grosso modo, as minhas tintas têm mais pigmentação, melhores comportamentos, pois é uma tinta pura, sem misturas de cores, por isso é já escolhida por pintores portugueses e estrangeiros”.

É um trabalho de detalhe, “para um nicho, dentro de um nicho”, como refere, e as suas tintas são já utilizadas pelos pintores Rafael Oliveira, Alexandre Coxo e até Carlos Barahona Possollo, que pintou o retrato oficial de Cavaco Silva. São poucos a produzirem o que Leonel Costa faz na Dartecor: “Ao nível ibérico sou o único e ao nível europeu sei que existem mais duas ou três empresas que o fazem, e já com alguma história. Ao nível mundial são também poucos, por isso poucos se dedicam a este quase enamorar de produzir tinta com esta qualidade”.

Diz-se um “cientista da arte”. O seu ateliê é quase um laboratório de cores e o objetivo não passa por produzir em grandes quantidades, “até porque isso obrigaria a outros investimentos e a entrar noutros mercados”, que não lhe interessam. Daí que, a par da conservação e do restauro e da produção de tintas artesanais artísticas, presta também serviços de consultadoria na área e dá formações e workhops, muito embora esta vertente tenha ficado mais suspensa, devido à Covid-19.  

“Os sonhos são muitos”, confessa, mas de momento prefere dar espaço para “consolidar o que já foi criado e, simultaneamente, chegar a mais artistas, mostrando-lhes o valor e o potencial do trabalho da Dartecor”.

“As minhas principais conquistas são os pintores utilizarem as minhas tintas e perceberem o seu potencial, perceber que com a parte de consultoria lhes poupei horas e horas de pesquisas, perceber que o seu trabalho chega a outros níveis, porque os ajudei, isso são as melhores conquistas que tenho neste momento”, sublinha Leonel Costa, dando nota ainda do protocolo firmado com a Faculdade de Belas Artes de Lisboa para o desenvolvimento de produtos em parceria com a Dartecor.

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