Remate Certeiro 15.03.2018

Manuel Marques

2018-03-15


Vizela está a viver o 20º aniversário da restauração do seu concelho. E o que tem isto a ver com o desporto a que está consignada esta coluna? Tem tudo.
E tem tudo porque a criação do concelho fez emergir e ou ressuscitar uma série de coletividades desportivas, passando as mais históricas a serem tratadas com dignidade, o que não acontecia até aí.

Para se ter uma ideia: a Câmara de Guimarães atribuía, na década de 80, ao Vitória (clube que muito respeito) 60 mil contos por época, e ao FC Vizela, que militava numa divisão abaixo, 53 contos por época, imagine-se agora a miséria dos outros clubes pequenos das freguesias que hoje compõe o concelho de Vizela.  

Para além disso, o Vitória jogava no Campo Municipal quase de forma exclusiva (o que veio a criar sérios problemas ao Vizela na época 1984-85 quando necessitou daquele recinto, que era de todos, para disputar o Campeonato Nacional da I Divisão) tendo, mais tarde, a Câmara oferecido de mão beijada ao Vitória (quiçá sobre a pressão de um grupo de adeptos organizados de dentro para fora, como revelou o ex-presidente da edilidade António Xavier que era à altura também presidente da Assembleia Geral do Vitória, em entrevista há cerca de dois meses à revista Mais Guimarães) o Estádio Municipal. 
Aquando do Europeu, o estádio foi renovado e a edilidade vimaranense ofereceu os postes usados da iluminação ao Moreirense para este clube poder ter jogos televisionados na I Liga. A diferença de apoios de que então Vizela se queixava estendia-se, naturalmente, às restantes coletividades, não se estranhando por isso que, em Vizela, fosse necessário fazer peditórios para os Bombeiros sobreviverem com os mínimos dos mínimos e noutras terras não.

O grito de liberdade alcançado a 19 de março de 1998 só pecou por tardio culpando-se disso o poder político nacional que obrigou Vizela a perder os fundos comunitários que foram distribuídos logo após a adesão de Portugal à antiga CEE. Os ditos fundos, foram partilhados por um saco sem fundo desbaratando-se em muitos lados o que faltava noutros como era o caso de Vizela. E isto fez com que terras apagadas na altura da distribuição das verbas comunitárias passassem a perna à frente de Vizela dispondo hoje de infraestruturas desportivas como piscinas, gimnodesportivos, relvados sintéticos e outros componentes que o nosso concelho ainda carece. Curiosamente, o Município de Vizela nunca exigiu de nenhum governo o ressarcimento destas verbas que lhe foram sonegadas. Se Vizela teve condições (ou necessidades) em 1998 para ser concelho mais as tinha 20 anos atrás. Tratou-se duma grande injustiça a esta terra e seu laborioso Povo.

O concelho de Vizela fez despontar a alma desportiva. Só não vê quem não quer ou estiver de má fé. Falta fazer ainda muito, é verdade, mas pior do que isso era não ter a esperança de que tal se conseguiria. Hoje, com a autonomia administrativa conquistada pelo Povo de Vizela a bola está do lado dos vizelenses e a única coisa que se pede é que não metam golos na própria baliza. Viva o Concelho de Vizela.