Persiste o mistério e o silêncio O caso é grave, muito grave

Eugénio Silva

2019-07-18


Os interesses públicos, onde se englobam os municipais, foram desenhados em prol e benefícios dos cidadãos, e não em favor e proveito de particulares. Por estas supremas razões, nenhum município deverá negociar o que quer que seja em privado, longe do escrutino público, muito menos adquirir património que não tenha por objetivo os interesses da sociedade em geral. Depois, aguarda-se que numa futura reunião de uma Assembleia Municipal - o lugar por excelência da publicitação de todos e quaisquer negócios públicos – se proceda ao debate e à aprovação da alienação patrimonial. 
Ora, em nome das boas práticas democráticas, abominamos que este órgão autárquico não seja visto e usado como palco ideal e genuíno da discussão pública, pois desejamos que a verdade, o rigor e a transparência sejam sempre tiranas e impiedosas face ao ardil e à mentira. E quando tal não se verifica, logo nos assalta ao pensamento “o aqui há tramóia”, legitimando-se, com todo o direito e pertinência, o adensar da suspeição. Por isso, senhor presidente do município de Vizela, verificando-se, como se verifica, que, até hoje, sonegou do debate público o seu nebuloso Projeto de Requalificação do Adro da Igreja de Santa Eulália; mostrando-se, como se mostra, esquivo em esclarecer com rigor e verdade os nebulosos negócios que lhe estão subjacentes, acabar a apelidar esta incómoda oposição – os poucos cidadãos que, simplesmente, ousam exigir-lhe o dever de prestar contas e a obrigação de os esclarecer - como “a mais baixa, a mais imoral e a mais ardilosa” na história de Vizela constitui um notável despudor demagógico, um claro grito de impotência por não a poder silenciar. Nada que nos surpreenda, nem mesmo a célere demarcação desta oposição por parte do PS na Reunião de Câmara de 25/06/2019. 
Todos sabem que quem paga - os cidadãos - tem o direito de conhecer os contornos e as finalidades dos negócios públicos. Nestes pressupostos, senhora vereadora e concomitante líder política da Comissão Concelhia do PS - Vizela, pouco ou nada interessará à sociedade saber quem acompanhou esses secretíssimos negócios, muito menos se mereceram a bênção clerical. Abandone, assim, a falsa amnésia, e esclareça os munícipes, na qualidade de vice-presidente do anterior executivo municipal, da imperiosa necessidade para o referido projeto de requalificação do adro da compra, em agosto de 2016, da denominada “Bouça de Agros ou Pendal”, bem nos limites da freguesia eulalense, se não mesmo em território da freguesia vizinha. Clarifique a importância para o concelho da compra dessa parcela, pelo valor de 26.000.00 euros, uma bouça cujo valor de mercado pouco deverá ultrapassar os 50 cêntimos por metro quadrado. Por tudo isto, como não sou cobarde nem preciso de procuradores para os questionar, pergunto-lhes, senhor presidente do município e senhora vereadora da oposição do PS: qual a necessidade desse projeto de uma área estimada em 50 000 metros quadrados de terreno, a quilómetros de distância da igreja? O que fizeram com toda essa enorme parcela de terreno?
Certifico também, senhora vereadora do PS e concomitante líder política da Comissão Concelhia do PS - Vizela, que, realmente, não integro nenhum órgão do aparelho partidário sob sua liderança. É uma honra que muito me apraz. Apenas suprimiu que não é por estar indiciado em qualquer tipo de negócios obscuros. Omitiu que não sou daqueles cúmplices “neutrais” que sempre se adaptam à ortodoxia do momento, dos que se dedicam a afagar o ego e a privilegiar a corte. É uma honra, porque isso significa que o meu currículo na política não é o resultado de escrutínios concertados no interior dos aparelhos partidários. Muito para além do meu empenho cívico, é o resultado de sucessivas intervenções públicas com a finalidade de tentar devolver às instituições o rigor a verdade e a transparência. E a minha participação política futura, a minha inteira disponibilidade, a minha plena ambição é aquela que todos já sabem ser a mesma de sempre: a plena defesa da democracia.
Sempre defenderei o princípio do que é da justiça cabe à justiça e do que é da política cabe à política. No entanto, quando os políticos persistem em optar por um plano afastado das elementares regras democráticas, quando decidem subverter o dever e a obrigação de prestar contas aos cidadãos acerca dos negócios pagos com dinheiros públicos, leva-nos a concluir que estamos perante um caso muito grave, gravíssimo. Por isso, na certeza de que “pecar pelo silêncio, quando se deveria protestar, transforma homens em cobardes” [Abraham Lincoln. estadista (1809-1865)], manifesto-lhes a minha viva repulsa, rogando-lhes que nos esclareçam, cabalmente, todos esses negócios nebulosos e cessem de nos tratar como verdadeiros anjinhos, quando não como autênticos imbecis.