O Professor decano do Lyceu de Braga

Júlio César Ferreira

2019-11-14


Foi recentemente apresentado o projecto de alteração do Jardim Manuel Faria e da Praça da Republica.
Entre as alterações a efetuar consta a colocação de uma Estátua, na Bica de Água Quente, ao distinto médico hidrologista, Dr. Abílio da Costa Torres, homem notável na história de Vizela e na Companhia de Banhos.
Não me causa nenhum enguiço a distinção, mas atendendo a que, o ilustre clínico nascido em Barrosas em 1846, tem já um Busto ereto nos jardins das Termas e o seu nome na rua principal de Vizela, julgo ser extemporânea nova distinção.
Foi na Praça da República, na Lameira dos finais do século XVIII e inícios do seculo XIX, que apareceram os primeiros banhos termais e o seu maior divulgador, defensor e estudioso das virtudes terapêuticas das suas águas,  foi o então proprietário daqueles terrenos, o vizelense José Joaquim da Silva Pereira - CALDAS, o vizelense mais ilustre e notável de todos os tempos.
Sem desprimor do trabalho efetuado, enquanto diretor clínico, em 1881 e 1882, da Companhia de Banhos de Vizela, a verdade é que, mesmo antes do Dr. Abílio Torres nascer, já Pereira Caldas dava a conhecer ao mundo as águas milagrosas de Vizela, fazendo a sua defesa, com o conhecimento adquirido em estudos devidamente estruturados e reconhecidos internacionalmente, como podemos ver no seu “INDICULO GENERICO DAS VIRTUDES CURATIVAS DAS AGUAS SULPHUROSAS DAS CALDAS DE VISELLA” -  Contendo a relacionação das propriedades características das suas numerosas nascentes, e as competentes aplicações  medicinais de cada uma delas - Braga - Tipografia Lusitana, 1845.

Também em - DUAS PALAVRAS SOBRE UMA EXCAVAÇÃO FEITA NAS CALDAS DE VIZELLA - Coimbra 12 de Abril de 1845, Pereira Caldas volta a falar da sua “sua” Lameira: “descobriram-se no dia 24 do preterito mez de março, e debaixo da varanda do edifício particular denominado o hospital, dois soberbos banhos antigos, que são para ver, tanto por sua extensão, como por sua admirável construcção marchetada. São mais dois monumentos de summo valor e dignos de toda a estimação, com que novamente são enriquecidas estas mui frequentadas caldas, as quaes com toda a plausibilidade se suppõe mandadas construir por Tito Flavio Archelau Claudiano, por effeíto de sua auctoridade publica sendo Legado de Angusto na Lusitania”. E continua Pereira Caldas - “Não pôde conhecer-se bem a quantidade das aguas thermaes, sulfureas, d’estes dois banhos, cuja temperatura fora marcada, por uma só vez, em 100º F.; porque ainda se achavam mettidos em parte de baixo do citado edifício, cuja demolição o bem público ardentemente demanda, como já em 19 de julho de l842 expozemus á Camara Municipal da villa de Guimarães, em cumprimento do seu patriótico oficio de l de junho de 1842, pelo qual se nos pedia uma indicação de todos os melhoramentos e reparações de que estas calldas precisavam”.
Como podemos ver, a Câmara de Guimarães da altura, pedia a Pereira Caldas para indicar os melhoramentos e as reparações que as Caldas precisavam, reconhecendo o seu saber e valor!!!
Mas, ninguém melhor que Augusto Soares d’Azevedo Barbosa de Pinho Leal, no seu Portugal Antigo e Moderno, para nos falar de José Joaquim da Silva Pereira Caldas: “Deixámos para coroa e remate deste tópico o mais ilustre filho de Vizella. Nasceu na freguesia de S. Miguel a 26 de Janeiro de 1818, sendo seus pais António Pereira da Silva e D. Maria José Alvares. Em Guimarães e arrabaldes fez os seus primeiros estudos, tendo por professor de latim o padre mestre José António Ferreira, pároco de Polvoreira (entre Vizella e Guimarães), que foi também mestre de todos os que, naqueles tempos e nestes contornos se dedicaram ás letras.
Pereira Caldas tornou-se muito notável entre os seus condiscípulos. A alguns destes ouvimos dizer que ele decorara o dicionário latino!...
Matriculando – se na Universidade, foi premiado nas faculdades de matemática, filosofia e medicina, que frequentou, tomando o grau de bacharel.
O distinto professor de matemática, filosofia e introdução é sócio honorário de varias sociedades, academias e institutos e sócio correspondente doutras associações do reino, Açores, da Academia Real das ciências, etc.

A sua biografia extensamente escrita e o longo catalogo de suas obras encontram-se no Diccionario de Innocendo, tomo 4º pag. 395, onde ocupam 19 paginas, e no tomo 13º pag. 42, não estando ainda todas mencionadas, porque depois escreveu algumas outras”.