Editorial 15 de novembro de 2018

Fátima Anjos

2018-11-15


Se no passado o acesso à informação era restrito, no mundo globalizado o que é preciso é destrinçar entre aquilo que é a informação e a desinformação. Já não falo das notícias falsas – as fake news – tão na moda mas da hierarquia ou do cariz prioritário com que nos é apresentada a informação.

Nos últimos dias, os telejornais voltam a abrir com o caso que abalou a instituição Sporting, os canais temáticos noticiosos promovem debates atrás de debates sobre o tema, para não falar dos diretos intermináveis do último domingo. Tudo porque o nosso país, infelizmente, continua a girar à volta do futebol.

Acredito que se a mesma atenção fosse dada aos casos de corrupção que têm envergonhado o nosso Portugal nos últimos anos – nomeadamente os que atingiram a nossa banca e lesaram milhares de portugueses – a justiça também teria sido mais dura na sua ação, como o tem sido com os eventuais protagonistas do ataque, condenável, à Academia dos leões.
Mas também é bem verdade que não podemos fazer dos media o bode expiatório de todos os problemas. Sabemos que obedecem, muitas das vezes, às “leis das audiências”, produzindo o que o espetador consome mais rapidamente. Daí que também nos cabe como público desenhar esta hierarquia do que é ou não importante, porque no dia em que deixarmos de fazer zapping quando somos confrontados com matérias que nos podem provocar insónias, estas vão passar a abrir telejornais e não há dúvidas de que hoje a pressão mediática tem muita importância nas ações que depois são tomadas pelos seus intervenientes.

Assim poderemos garantir uma informação democratizada, à qual todos têm acesso, e que é concebida, tendo por base um conceito que é nobre e que se chama serviço público. E depois também não tenhamos dúvidas de que este é um conceito importantíssimo para que mantenhamos Portugal a ser governado em democracia. Há alguns anos até poderíamos pensar que seria absurdo pensar no nosso país como não sendo um país democrático. Mas nós hoje temos que pôr os olhos no mundo e o que vejo assusta-me. E assusta-me porque tenho família e amigos e temo pelo nosso futuro. Os discursos anti-democráticos têm ganho força e alguns até já foram legitimados pelo voto das suas populações. É assustador pensar que a alternativa à corrupção é o “fascismo”. Não podemos tomar esta como uma verdade. Mas também não podemos ser permissivos com a corrupção que tem sido colocada a descoberto nos últimos anos em Portugal e que deve ser punida com mão pesada. Caso contrário, voltaremos sempre ao mesmo, porque dá a ideia, de que o crime compensa.

Sei que é mais fácil colocar emoji’s nas publicações “mais fofinhas” ou odiar tudo e todos, juntando-nos ao clube dos hater’s. Difícil é percebermos o que é de facto importante e para onde caminhamos. Nem sempre nos apercebemos que, muitas das vezes, somos conduzidos, de forma inconsciente, para um lugar que não escolhemos. Daí que não deve haver lugar para distrações nem para conformismos.