Desinformação

Fátima Anjos

2019-12-05


Há dias foram anunciadas pela Porto Editora as 10 candidatas a palavra do ano 2019. A lista estará em votação até 31 de dezembro mas, na minha opinião, há já uma que se destaca entre as demais e chama-se “Desinformação”.
Hoje sabemos que as “fake-news” se espalham rapidamente como uma epidemia mas nem sempre temos noção da dimensão das suas consequências. Lia há dias, por exemplo, sobre um surto de notícias falsas no Brasil sobre os efeitos das vacinas contra o HPV e que estão a influenciar negativamente a taxa de cobertura de vacinação das jovens brasileiras.  Aqui está a diferença entre a vida e a morte a partir de uma notícia falsa.
Mas também temos outras faces da moeda. No livro “Viral – A Epidemia de Fake-News e a Guerra da Desinformação”, da autoria de Fernando Esteves e Gustavo Sampaio – respetivamente diretor e subdiretor adjunto do Polígrafo (que se intitula como o primeiro jornal português de fact checking), é abordada a eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA, em 2016, como tendo sido o primeiro ensaio da utilização intensiva e organizada de “fake-news” como arma política. Terá sido depois replicado o método no Brasil, o que permitiu a eleição de Bolsonaro. E nas últimas Legislativas o fenómeno patenteou-se em Portugal, embora, julgo eu, numa escala à dimensão do nosso país. Mas não menos preocupante.
A proliferação é simples e o canal, não tenham dúvidas, são as redes sociais. E o problema é ainda maior, porque hoje, para muitas pessoas, o acesso à informação é feito, em exclusivo, através daquilo que é publicado nestas mesmas redes, sem nunca terem, por isso, a oportunidade de fazerem o contraponto e perceberem onde está a verdade.
Ao mesmo tempo, alguns de nós viraram preguiçosos, não olham para as fontes – a origem das publicações – nem para as datas e ficam-se também pelos títulos ou pelas chamadas “letras gordas”, as que vão atrair visualizações e, por isso, créditos para os seus autores. E fazem mais, partilham, aliando-se a esta bolha desinformativa e muitas vezes de estupidificação, que nos consome o mais rico do nosso tempo, que já é tão curto.
A juntar-se a tudo isto estará o fenómeno do cidadão-repórter sempre em crescendo – todos querem publicar em primeiro lugar – o que faz com que haja uma maior dificuldade em destrinçar o que é ou não informação, o que é ou não jornalismo. E até os próprios jornalistas, pressionados pelo ter de fazer cada vez mais mas em menos tempo, veem o seu trabalho perder qualidade, colocando em causa o rigor de um jornalismo que devia informar, explicar e, talvez, até, em alguns casos, questionar.
Por tudo isto, não à “Desinformação”.
 Não nos podemos deixar manietar! “A desinformação da sociedade é a oportunidade dos governantes”. A frase é de Rafael Souza Lima.
Um bom fim de semana.