Vizelense Carla Leite venceu Trail Ultra Madeira com 85 km

Professora de matemática promete fazer uma aposta mais forte nos trails para o próximo ano

 

 

A vizelense Carla Leite foi notícia na Madeira, no passado dia 06, pois foi a vencedora da versão mais longa do Ultra Madeira, um trail que arrancou às quatro da manhã e ligou o farol da Ponta do Pargo ao Caniçal, num desafio de 85 km de pura emoção e adrenalina. Foi a estreia na distância desta professora de Matemática, que tem planos ambiciosos para a modalidade, no próximo ano.

A falta de colocação após ter concluído a faculdade, fez Carla Leite, de 38 anos de idade, natural de Santo Adrião de Vizela, rumar à Madeira onde tinha a certeza que “iria ter uma escola para trabalhar e fazer aquilo que gostava, que era lecionar”. Professora de Matemática do terceiro ciclo e do secundário, está há treze anos no arquipélago, tendo o Clube Desportivo Escola do Porto da Cruz sido a primeira escola que representou, este é também o clube que atualmente representa como atleta.

Carla Leite começou a correr porque sentiu a necessidade de fazer algum exercício, já caminhava, mas decidiu começar a correr e do lazer à competição foi um passo. A primeira opção foi fazer provas de estrada: “Fiz uma ou duas mas não gostei e decidi encontrar algo mais à minha medida”.

Começou a correr traills em 2013, mas curiosamente o impulso para que tal acontecesse acabou por vir do continente, aquando de uma visita da sua irmã, que foi à Madeira para participar no MIUT, um trail de 40 km. Confessa que gostou de ver a irmã equipada para a prova, aproveitou este “empurrão” e inscreveu-se na prova mais pequena de 20 km e ganhou. Gostou tanto desta experiência que nunca mais parou até aos dias de hoje. “Gostei da forma como correu a competição sobretudo da forma como se vai conversando ao longo da corrida e da ajuda que vamos dando uns aos outros, muito diferente do que acontece nas provas de estrada, onde só se pensa e se vê a meta”. Outro fator que levou Carla Leite a ficar pelos trails foi o enquadramento de cada prova. “Quem não vem à Madeira fazer trails, não tem noção dos sítios por onde passamos, nem das paisagens que vemos”, afirma. Reconhece que não faz muitas provas, mas apenas aquelas que seleciona e cada vez mais longas. “Vou fazendo algumas provas todos os anos, não faço muitas, tenho selecionado três provas, em média e faço-as. Comecei por distâncias mais curtas e nos primeiros anos apenas fiz trails de 20 e 30 km. No ano passado fiz uma de 45 km e no Ultra Madeira arrisquei fazer pela primeira vez a prova de 85 km”, conta.

 

A estreia no Ultra Madeira em 85 km

 

O Ultra Madeira é um dos grandes eventos na ilha a par com o MIUT, outro trail de 85 km. O evento realizado no passado dia 06 foi organizado pela Associação de Atletismo da Região Autónoma da Madeira e teve no Farol da Ponta do Pargo o ponto de partida, às quatro horas e trinta minutos da madrugada de sábado, envolvendo 169 atletas na linha de partida, maioritariamente forasteiros, dispostos a enfrentarem a travessia da ilha numa distância de cerca de 85 km e 3900 metros de desnível positivo.

Para Carla Leite este também foi um desafio, a que já se podia ter lançado antes, não fosse uma arreliadora lesão que a apoquentou nos últimos meses. “Encarei esta participação como um desafio, já em abril era para fazer o MIUT, também de 85 km, aqui na Madeira, mas na altura estava lesionada. Mais à frente ainda tentei fazer outra de vinte, mas a lesão agravou-se. Tive que recuperar e só recomecei a trabalhar em setembro. Sabia que tinha capacidades para fazer a prova, mas há sempre o receio de que possa ocorrer alguma situação menos boa, ao nível da alimentação, da hidratação ou alguma lesão e não conseguir terminar”.

Acredita que se poderá sair bem nas longas distâncias, se continuar a conseguir gerir o esforço, mas também todos os fatores inerentes à participação. “Enquanto nas provas de distância mais pequenas, tu tens que impor logo o teu ritmo, para te manter na frente, nesta prova as coisas foram totalmente diferentes. Tens que saber gerir a prova, com ritmo lento desde o início, para conseguir chegar bem ao final”.  Treinar muito e procurar perceber o que deve ser feito para que as coisas corram bem, foram segredos para a vitória na opinião da atleta. “Tem que se ter algum trabalho e algum treino, pois se não o fizer a prova torna-se dolorosa. Também tem que se gerir a alimentação e a hidratação, situações muito importantes e que nem sempre correm bem. Eu estive sempre a hidratar e essa parte correu bem, já ao nível da alimentação senti algumas dificuldades. Entre os quilómetros trinta e quarenta já não estava a conseguir ingerir sólidos. Tive que me socorrer das barras energéticas em pedacinhos pequenos e bebia água para empurrar. Nem toda a gente consegue fazer a alimentação ideal. Apesar de correr por um clube não tenho nutricionista, nem treinador e por isso procuro ver na Internet a melhor forma de gerir a minha alimentação e nutrição”.  

Confessa a grande alegria sentida quando chegou ao final. “É muito bom, a sensação é maravilhosa. Nunca fiz uma prova com esta distância e é muito bom vencer logo, na primeira que fazemos”.

Até ao momento, Carla Leite apenas fez trails na Madeira, mas mostra a ambição de fazer mais na modalidade em provas de referência mundial da especialidade. “Só tenho feito provas na Madeira, pois apenas vou ao continente na altura das férias escolares. Mas quero fazer outras provas no continente e no estrangeiro. Para o ano tenho como grande objetivo fazer o MIUT Madeira de 85 Km e também o OCC, o Ultra Trail du Monte Blanc nos Alpes. Para esta vou-me inscrever, sei que há muitos inscritos de todo o mundo, mas fica a inscrição e se não for para o ano vou no seguinte. Também sei que em Vizela há um trail, que também gostava de fazer. Entretanto vou também tentar participar em outras provas, que forem aparecendo”. Destaca também o facto de esta não ser uma modalidade barata. “Quero continuar a correr, porque gosto e noto que é uma coisa que me faz bem. O mais difícil é acertar as datas e também a questão financeira, porque este não é um desporto barato”, refere.

Apesar de tudo Carla Leite não se define como atleta: “Eu não me defino como atleta, porque apesar de reconhecer que os resultados até têm sido positivos, nunca quis abdicar da minha vida pessoal e profissional para me dedicar aos planos de treino, de nutrição, de ginásio, etc. Corro pelo prazer de correr, quando me apetece e onde me apetece. Muitas vezes tem de ser na estrada, na zona onde vivo, e quando posso então vou à serra, que é onde me sinto bem.

“Se calhar é por isso que faço poucas provas, mas as que faço vou com vontade de me superar…”.

Refira-se que a organização deste Ultra Madeira dá 24 horas, para os participantes concluírem esta prova, no entanto Carla Leite apenas utilizou praticamente metade desse tempo, ou seja 12 horas, 57 minutos e 04 segundos.

Em termos globais, o evento envolveu meio milhar de participantes e cerca de três centenas de colaboradores e voluntários na organização logística das competições.

 

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